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Tradutor: Fleur Revisor: Fleur
Namgung Chumyeong havia dito com todas as letras: “Achei que você tivesse esquecido, por termos nos encontrado ainda muito jovens.”
“Hmm. Será que ela passou a infância confinada dentro de um quarto?”
“O que poderia faltar ao patriarca da família Namgung para esconder uma filha ilegítima? Ter filhos fora do casamento não é nem de longe uma vergonha em uma casa como essa.”
E no entanto, uma filha escondida por tanto tempo foi repentinamente trazida de volta… e acabou sendo atacada no caminho.
“Será que o verdadeiro objetivo era assassiná-la durante o trajeto?”
Também não fazia sentido. Uma filha ilegítima, sem direito à sucessão, não valia o esforço de um assassinato. E se fosse para matá-la, seria mais fácil invadir discretamente a casa onde morava e cortar-lhe o pescoço.
“Chang’a, as únicas pessoas que moravam com Namgung Soyo eram vocês, as criadas?”
“Não! Havia um senhor e uma senhora também, mas pouco antes de partirmos, eles voltaram para a vila natal.”
“E onde fica essa vila?”
“Ah, i-isso eu também não sei direito…”
O desaparecimento dos outros criados era conveniente para esconder a verdadeira identidade de Yeoil.
“No fim, o único que sabe quem era a mãe de Namgung Soyo é o patriarca da família Namgung.”
E ele era, até agora, um completo fantasma.
Talvez pelo tédio de ficar trancada por dias, Chan’ga lançou um olhar para o jardim modesto além da janela e perguntou:
“Senhorita Soyo, vamos continuar aqui neste quarto o tempo todo?”
“Por enquanto, sim. É melhor ficar aqui do que andar chamando atenção pelos corredores.”
Afinal, a Namgung Soyo que Yeoil interpretava era uma jovem discreta e pacata.
“Entendido. Se quiser sair para passear, por favor me avise! Eu a guiarei com todo o cuidado.”
Com um sorriso cheio de energia, Changa recebeu um sorriso gentil de volta.
Por ora, seria melhor permanecer em silêncio e manter os olhares longe. Por ora.
Naquela noite escura, com a lua encoberta pelas nuvens, a tão esperada visita finalmente chegou ao quarto de Yeoil. Mas não pela porta, e sim pelo telhado.
“Só uma pessoa. E está vindo direto, sem hesitar…”
Um assassino enviado para matar Namgung Soyo?
Yeoil arrumou o travesseiro sob o cobertor, simulando um corpo deitado, e se escondeu nas sombras do quarto. Não demorou para que um homem vestido de preto se aproximasse da cama, em silêncio absoluto, e sacasse uma adaga.
No instante seguinte, o corpo de Yeoil se lançou pelas costas do invasor como uma flecha.
“Kh.”
Sem aviso, ela atingiu um ponto vital e o assassino caiu desacordado. Após confirmar o rosto do homem, Yeoil chamou em voz baixa:
“Seolyeong, levante-se.”
Logo, ouviu-se um som suave, e Seolyeong entrou no quarto caminhando devagar.
“Uaaaahm… O que foi, a essa hora…? Ué, e esse sujeito todo de preto? Já contratou um novo criado?”
“Pensei nisso, mas ele não me agradou. Leve-o e jogue no jardim dos fundos.”
Com os olhos meio fechados de sono, Seolyeong perguntou:
“Hmm… não vai matá-lo? Pelo menos quebrar os braços e pernas facilitaria as coisas.”
“Ele vai ficar desacordado por um bom tempo. Deixe que acorde e fuja por conta própria. Se continuar desacordado até o amanhecer, pode dar uns tapas.”
“Pff… sempre esse seu negócio de soltar os inimigos. Vai ver que ele volta. Bom, vou fazer como mandou.”
Yeoil observou Seolyeong arrastando o assassino como um saco de batatas e voltou para a cama.
Os passos do homem haviam sido precisos demais. Ele conhecia perfeitamente a planta do prédio, sabia exatamente onde estava o quarto de Namgung Soyo.
“Definitivamente, o inimigo está dentro da própria família.”
Um ataque tão insistente…
Talvez Namgung Soyo não fosse uma simples filha ilegítima, afinal.
Quarto dia na casa da família Namgung. Mais uma vez, nenhum parente sequer deu as caras.
Cansada de esperar, Changa resolveu trazer notícias do mundo exterior por conta própria.
“Dizem que o herdeiro passou ontem e hoje se divertindo fora da casa. O segundo filho está ocupado cuidando dos negócios no lugar dele. E o terceiro está trancado treinando artes marciais sem parar.”
“E o patriarca?”
“Ninguém sabe. Nem as criadas parecem ter ideia… Já estou começando a achar que devíamos ir procurar o herdeiro. Está tudo tão quieto que parece que esqueceram da existência da senhorita…”
Yeoil também já estava pensando em agir. Acariciando os cabelos de Chang’a, ela apontou para a porta.
“Vamos esperar só até hoje. Que tal sair para tomar um pouco de ar fresco?”
“Ah… claro! Já decorei toda a estrutura aqui por perto. Vou levá-la ao lugar mais tranquilo.”
De olhos fechados, Yeoil se apoiou em Chang’a e, pela primeira vez desde que chegou, saiu de seu quarto.
O ambiente era, de fato, muito silencioso.
Em famílias como a Namgung, normalmente haveria dezenas de pessoas circulando, mas ali, só via-se criadas, servos e guardas.
Diziam que, além do patriarca, o único parente adulto que morava na propriedade era um dos irmãos. Então fazia sentido ser tão tranquilo.
Enquanto escutava a narração viva de Chang’a sobre a paisagem, um som familiar interrompeu os passos de Yeoil.
“O som de uma espada.”
Atenta, Yeoil virou-se na direção da origem do som.
“Chang’a, vamos ali por trás daquele muro.”
“Ali? Mas… aquele é o quarto do senhor Huimyeong…”
“Está tudo bem. Só vamos espiar um pouco.”
Com cuidado, ela pulou o muro e abriu discretamente os olhos.
Sob uma macieira florida, um jovem treinava sozinho, imerso na própria espada. Era Namgung Huimyeong, de feições intensas e os longos cabelos presos no alto da cabeça.
Já que estavam ali, Yeoil aproveitou para observar com atenção o corpo e os movimentos do terceiro filho.
Sua habilidade era surpreendente, um nível de domínio marcial muito acima da média para sua idade. Filhos de famílias nobres como essa normalmente passavam por treinamentos secretos desde a infância. Era evidente que ele havia seguido esse caminho.
Se ele já era assim, como seria Namgung Jeongmyeong, o herdeiro?
No momento em que pensava nisso, Huimyeong interrompeu o treino.
“Uff…”
Soltou um suspiro pesado.
Seu rosto franzido indicava frustração, algo o incomodava.
Logo voltou a empunhar a espada, e após mais alguns movimentos, parou novamente. Cerrava os punhos, recomeçava, e repetia o ciclo.
Os golpes tinham uma intensidade brutal, quase excessiva. Mas a cada repetição, parecia mais que ele estava sendo arrastado pela própria espada.
“Um problema emocional…”
A forma como ele cerrava os dentes e forçava a concentração lembrou Yeoil de um passado que preferia esquecer, o motivo que a levou, anos atrás, a trilhar o caminho das artes marciais.
Talvez por isso, seus lábios se abriram sem perceber.
“O que o deixa tão apressado assim?”
“…Quem está aí?”
Huimyeong parou no lugar, surpreso, e lançou um olhar afiado para Yeoil. Ela conteve o riso diante da agressividade dele e respondeu com serenidade:
“Sinto em seus movimentos uma urgência impaciente. O som da espada se assemelha ao de um porrete sendo balançado. Precisa mesmo agir com tanta pressa? Sua espada não vai a lugar nenhum.”
“O quê? Quem é você? Quem te deu liberdade pra falar esse monte de bobagem?”
Diante da crítica afiada, Yeoil apenas curvou levemente a cabeça.
“Peço desculpas se me intrometi. Como vivi cega a vida inteira, acabei desenvolvendo o hábito de sentir os sentimentos dos outros pelo som. Serei mais cuidadosa.”
Essas palavras pareceram acalmar Huimyeong. Ele ficou pensativo, algo naquilo o havia intrigado.
“Mas… você não sabe nada de espadas. Como é que consegue sentir meu estado de espírito só pelo som?”
“O som de uma espada não tem nada de especial. No fim das contas, é só um objeto. Mesmo que o senhor estivesse segurando uma xícara de chá, eu teria dito a mesma coisa.”
“Então como você conseguiu notar?”
“Ah, ficou curioso?”
Huimyeong bufou e cruzou os braços, guardando a espada.
“E como não ficaria? Fala logo. Quero ouvir essa maluquice direito.”
“Na verdade, a forma como eu compreendi o estado de espírito do senhor Huimyeong…”
“…”
“Foi por meio de…”
“…”
“Um segredo só meu.”
“…Hã?”
“Se está tão curioso, por que não tenta viver com os olhos fechados por uns quinze anos? Vai aprender rapidinho.”
Antes que a fúria de Huimyeong explodisse, Yeoil segurou a mão de Changa e virou as costas.
Voltaram correndo para o quarto, quase como uma fuga.
Depois disso, Yeoil pediu que Chang’a observasse os movimentos de Huimyeong nos dias seguintes.
“Ele ficou praticando espada por mais de duas horas depois que a senhorita saiu. Dizem que ele passa praticamente o dia inteiro nisso.”
Duas horas.
Mesmo com a concentração interrompida por Yeoil, ele ainda continuou treinando por tanto tempo? Talvez seu conselho, por mais sutil que tenha sido, tenha surtido algum efeito.
“É melhor tirar o terceiro da lista de suspeitos. Ele está tão absorto na espada que mal enxerga qualquer outra coisa.”
Se for assim, um dos outros irmãos ou até o herdeiro deve estar por trás dos ataques.
“Agora é só esperar para ver quem virá me procurar primeiro.”
Quem será?
Com um sorriso contido, Yeoil mordeu um doce vermelho decorado com pétalas de flores.
Naquela mesma noite…
Um segundo assassino invadiu o quarto de Namgung Soyo. E foi a partir de então que os rumores começaram a circular na família Namgung:
“Toda noite, gritos horríveis ecoam do quarto da senhorita Soyo.”