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Tradutor: Fleur Revisor: Fleur
“Você enlouqueceu?!”
Seolyeong explodiu, avançando como se fosse agarrar Yeoil pela gola.
Mas Yeoil não desviou o olhar. Seus olhos estavam presos ao rosto da criada, que tremia visivelmente.
“E–eu… minha cabeça tola não consegue entender o que a senhora está dizendo… Como pode sugerir uma coisa dessas?”
“Antes de morrer, Namgung Soyo confiou a você seu último desejo, não foi?”
A menina, hesitante, levou a mão suja de terra até o colar com um pingente de cristal pendurado no pescoço.
“Você sozinha não conseguiria realizá-lo. Mas se Namgung Soyo ainda estivesse viva… talvez houvesse uma chance de encontrar sua mãe.”
Com sorte, a própria mãe poderia vir ao seu encontro.
Yeoil voltou à carruagem, tirou um pergaminho amarrotado do bolso e o estendeu no chão. Sentou-se ao lado da garota.
“Está vendo isso?”
“…O que é isso tudo?”
“Os últimos desejos do meu mestre. São eles que me fazem vagar pelo mundo marcial.”
A menina esticou o pescoço, curiosa, e começou a ler. À medida que avançava pelas linhas do pergaminho, o rosto se contorcia em esforço visível para conter o riso.
“Então aquela história de antes era… Ah, esses desejos são bem… peculiares.”
“Pode dizer que parecem coisa de um lunático. Mas leia este aqui.”
Seus olhos seguiram o dedo de Yeoil:
5. Se encontrar alguém que perdeu os pais, aceite um pedido dessa pessoa.
Era um desejo de destaque, ocupando uma das primeiras posições.
Mas Yeoil nunca tivera a chance de cumpri-lo, afinal, órfãos havia aos montes no mundo, mas não era como se andassem com placas informando isso.
“Então… o senhor está dizendo que vai cumprir esse desejo? Que vai aceitar meu pedido… de encontrar a mãe da senhorita Soyo?”
Yeoil respondeu com um gesto suave, acariciando a cabeça da menina.
“Você também perdeu seus pais. Mas o pedido que vou atender é o de Namgung Soyo. Ela perdeu a mãe… e foi rejeitada pelo pai. Isso conta como ter perdido ambos.”
“…”
“Se algum dia duvidar de mim, pode contar tudo à família Namgung. Serei apenas uma criminosa em fuga.”
“Não… eu não duvido da senhora. Salvou minha vida. E, além disso, é forte o bastante para me matar aqui mesmo e tomar a identidade da senhorita Soyo à força, se quisesse.”
A garota apertou com mais força a mão gelada da morta.
Permaneceu em silêncio por um instante, então assentiu com firmeza, como quem acaba de tomar uma decisão irreversível.
“Sem a senhorita Soyo… eu não sou nada. A família Namgung jamais me aceitaria. Eu voltaria para as ruas…”
O rosto jovem e inocente parecia prestes a desabar em lágrimas mais uma vez.
Seolyeong, que assistia de braços cruzados, estalou a língua e colocou a mão na cintura.
“Hah. Isso é uma loucura. Roubar a identidade de uma filha de clã marcial? Você tá falando sério, irmã?!”
“Mais louco do que os desejos daquele velho maluco?”
“É que… não combina com você se meter numa encrenca dessas. Nem parece a mesma pessoa. E se alguém reconhecer você?”
“Tenho o pingente da mãe dela. E essa menina vai me reconhecer como a verdadeira senhorita. Quem ousaria duvidar?”
“E os assassinos? Eles viram o rosto da verdadeira Namgung Soyo!”
“Seolyeong. Desde quando testemunho de assassino vale alguma coisa? Ninguém acreditaria. E mesmo que alguém acreditasse… o mundo não acreditaria neles.”
A firmeza nas palavras de Yeoil fez Seolyeong silenciar.
Ela lhe deu um tapinha tranquilizador no ombro, mas antes que pudesse dizer algo, a voz da menina se ergueu, trêmula:
“Se o senhor encontrar a mãe da senhorita… e depois disso…?”
“Desaparecerei. Vou continuar minha jornada.”
Yeoil ajudou a menina a se levantar, soltando a mão da morta com delicadeza.
“Namgung Soyo terá seu desejo atendido. Eu cumprirei a vontade do meu mestre. E você… encontrará um jeito de viver por si mesma.”
Como se tomada por uma decisão íntima, a menina afastou a mão de Yeoil e se curvou profundamente.
“Entendido. Eu ajudarei. Por favor, realize o desejo da minha senhorita!”
Seolyeong soltou um suspiro tão profundo que parecia perfurar o chão.
Em meio ao burburinho da cidade, a velha carruagem parou.
Yeoil observava a movimentação intensa pela janela. Chamou a criada:
“Chang’a.”
“Sim, senhorita.”
Chang’a, antes uma simples criada de Namgung Soyo, se virou, tensa.
“Aquela loja ali é a famosa pelos setenta anos vendendo tanghulu?”
“Se–setenta anos? Eu… não tenho certeza, senhorita…”
“Não importa quem está vendendo. Tanghulu é tanghulu. Compre três. E traga as informações que pedi. Pode ficar com um deles.”
“Pra mim também? Sério? Obrigada, senhorita! Já volto!”
Yeoil observou, silenciosa, a cabecinha arredondada sumir entre a multidão.
Nos últimos dois dias, Chang’a havia chorado sem parar. Mas naquela manhã, começou a se mostrar mais firme. Talvez porque estivessem prestes a chegar à mansão principal da família Namgung.
Assim que a menina desapareceu, uma voz emburrada veio do banco do cocheiro:
“Ainda não entendo, irmã.”
“Senhorita.”
Seolyeong franziu a testa.
“Sim, sim… maldita Namgung Soyo… senhorita…”
Yeoil segurou o riso.
“Finalmente o teimoso resolveu falar. Vai me dizer o que não entende?”
Ela já havia preparado tudo para retornar como Namgung Soyo.
Usava roupas simples, mas condizentes com seu novo papel. Soltara os cabelos, e até fez um corte no braço, para provocar a compaixão do patriarca.
Os corpos de Soyo e das criadas tinham sido enterrados com a ajuda do irmão de Seolyeong, próximo a Tianzhushan.
Nas primeiras semanas, ninguém suspeitaria de nada.
“Por que está fazendo tudo isso?”
“Hum…”
Ah, então o problema era esse.
“Você sabe que eu tenho compaixão. Só quis ajudar uma alma sofredora.”
Mas o olhar de Seolyeong deixava claro que não acreditava numa palavra sequer. Era como se dissesse: Você tá escondendo alguma coisa.
“Tem outro motivo, não tem?”
“Claro que não.”
“Quão perigoso ele é?”
“Não tem motivo.”
“Não é que eu esteja preocupado com sua segurança, mas o mundo é imprevisível. Me diga o que está tramando. Isso me deixaria mais tranquilo.”
“Já disse que não tem nada.”
Mas, é claro, havia.
A lista de alvos da Salmak, supostamente guardada dentro da mansão da família Namgung.
Yeoil, no entanto, jamais contaria isso a ele.
Seolyeong não sabia sobre o passado dela com a Salmak. E mesmo com a organização tida como extinta, só o fato de ter algum envolvimento com ela já colocava o garoto em risco.
Por isso, quanto menos ele soubesse, melhor.
Nesse instante, Chang’a voltou correndo com os doces. Yeoil acenou levemente, dispensando Seolyeong.
Ao morder o tanghulu, a reação foi imediata.
Ruim.
Talvez tivesse escolhido um mal feito. Ou talvez tanghulu fosse isso mesmo, um doce azedo demais e enjoativamente doce ao mesmo tempo.
“Esse velho maluco me fez comer isso como último desejo? Que espírito de porco.”
Ainda assim, mais uma tarefa da lista havia sido cumprida.
Enquanto entregava os tanghulus restantes a Changa e escutava o que ela descobrira, a carruagem parou bruscamente.
Seolyeong só faria isso por um motivo:
“Chegamos à família Namgung.”
“Ugh…”
Chang’a, assustada, engoliu às pressas o pedaço de fruta que mastigava.
Logo depois, uma voz masculina do lado de fora perguntou:
“Quem é você?”