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Tradutor: Fleur Revisor: Fleur
Tanghulu não era a única coisa.
Entre os desejos que o mestre deixara para Yeoil, havia muitos absurdamente triviais. Pensando bem, o pedido do tanghulu até parecia um dos mais simples, especialmente se ignorássemos o detalhe de que precisava ser em plena Tianzhushan, em Anhui.
Provavelmente, o velho havia usado aqueles desejos como desculpa para forçá-la a explorar o mundo marcial. E no fim… funcionou perfeitamente.
Foi então que a carruagem, que seguia tranquila, parou abruptamente.
“Isso é um problema… O que faremos, irmã? A estrada à frente está difícil demais pra passar com a carruagem.”
Logo depois, um grito estrondoso ecoou nas proximidades.
“Assassinos! É um ataque de assassinos! Não entrem em pânico! Protejam a carruagem!”
Protetores?
Ser atacado por assassinos e não simples bandidos, numa estrada remota assim indicava que estavam transportando algo realmente valioso. Dentro da carruagem, Yeoil enrolava calmamente o pergaminho.
“Seolyeong, parece que temos um problema à frente, não?”
Do assento do cocheiro, veio a resposta, um pouco surpresa:
“Hã? Como sabia? Tem uma árvore caída bloqueando a estrada, é enorme. Nem dois homens juntos dariam conta.”
“Vocês não notaram a carruagem que nos passou há pouco voltando? Ouvi até o mercador resmungando. Já era hora de dar meia-volta, Seolyeong.”
“Se viu isso, por favor me avise da próxima vez! Teríamos poupado um bom caminho…”
A reclamação de Seolyeong foi interrompida pelos gritos do lado de fora.
“Droga, não se separem! Protejam a senhorita Namgung Soyo!”
Namgung. Um sobrenome bastante familiar.
Então não eram apenas escoltas, eram guardas de uma casa marcial. A carruagem de Yeoil começou a recuar, pegando o caminho oposto.
“Vamos atrasar duas horas a mais do que o previsto, mas se continuarmos sem parar, ainda chegamos antes do pôr do sol. Se você tivesse me avisado, podíamos ter cortado isso pela metade, irmã…”
Nesse instante, uma voz desesperada surgiu bem à frente da carruagem.
“Po–por favor, ajudem!”
A carruagem parou outra vez, bruscamente. Tum, tum. Alguém começou a bater com força na lateral.
“Por favor, senhores! A senhorita dentro da carruagem é Namgung Soyo, filha única da respeitada família Namgung! Se a salvarem, o patriarca certamente os recompensará generosamente! Imploro, por favor, ajudem!”
Para estar despejando tudo isso diretamente ao cocheiro, parecia até exagerado. Seolyeong suspirou fundo e perguntou:
“O que acha, irmã?”
Yeoil ficou em silêncio por um tempo e, em seguida, abriu novamente o pergaminho.
O mestre havia deixado exatamente 40 desejos. Nos últimos seis meses viajando por Jianghu, ela conseguira cumprir cerca da metade.
Restavam 20, alguns viáveis, outros completamente absurdos. Ela começou a vasculhar a lista, procurando algo que pudesse se encaixar com “Namgung Soyo”.
Vamos ver…
11. Se encontrar uma mulher com altura superior a sete cheok (aprox. 2,1 metros), ouça seus problemas e ajude-a.
“A senhorita Namgung Soyo tem mais de sete cheok?”
Do lado de fora, a mulher que parecia ser a criada respondeu, confusa:
“Hã? N–não, não tem…”
Próximo.
23. Se encontrar alguém com uma doença incurável, aceite um pedido dessa pessoa.
“E Namgung Soyo? Tem alguma doença incurável?”
“Bem… não chega a tanto…”
Próximo.
39. Se encontrar alguém com olhos dourados…
“Ela tem olhos dourados?”
“……”
40. E se for um ocidental…
“E ela é estrangeira?”
A criada, já visivelmente impaciente, explodiu:
“P–por que está fazendo perguntas tão ridículas?! Estamos numa situação urgente e está desperdiçando tempo com isso?!”
“Então não está em nenhuma das condições da lista.”
O que significava que… não havia razão para se envolver.
Yeoil havia retornado ao mundo marcial por dois únicos motivos: devolver o anel de jade ao seu lugar de origem e cumprir os desejos deixados pelo velho mestre.
E como Namgung Soyo não era alta, não estava doente, não tinha olhos dourados e tampouco era estrangeira… o destino dela era morrer ali.
O destino, afinal, é cruel. E no mundo marcial, aceitar isso é o básico. Essa é a ¹natureza de Jianghu.
Yeoil enrolou o pergaminho com calma e disse, fria:
“Vamos voltar, Seolyeong. Ou não chegaremos antes do pôr do sol.”
“N–não! Por favor!”
“Entendido, irmã. Mas…”
“O que foi?”
“Enquanto conversávamos… parece que a estrada de trás também foi bloqueada.”
Yeoil levantou os olhos lentamente, encarando a parede da carruagem à sua frente.
Lá fora, tudo estava em silêncio.
O som metálico das armas havia cessado. No lugar dele, uma presença sufocante preenchia o ar. Do outro lado da parede, sentia-se uma sede de sangue afiada como uma lâmina, mirando diretamente a carruagem.
“Senhores! São eles! Eles atacaram a carruagem da senhorita Namgung Soyo…!”
Seolyeong falava com a voz tensa.
Ao que tudo indicava, os guardas da família Namgung tinham sido abatidos com facilidade — o que significava que os inimigos não eram amadores. Ou então… foram traídos por alguém de dentro.
Foi quando uma voz fria cortou o ar:
“Entreguem a criada, e deixaremos a carruagem seguir em paz.”
Até que era uma negociação… razoável.
“Irmã.”
Ao ouvir Seolyeong, Yeoil sorriu, leve.
“Entregue.”
“N–não! Por favor, não! Eu faço qualquer coisa! Salvem minha senhora, por favor! Por favor, por favooor!”
“Desculpe. A ordem da minha irmã é mais importante.”
Seolyeong desceu do assento do cocheiro e, aparentemente, empurrou a criada para fora. Os gritos desesperados dela se afastavam, sufocados por lágrimas e terror.
“Não, isso não! Por favor… por favor, me salve…!”
Nesse momento, Yeoil deixou o pergaminho de lado e pegou algo no canto da carruagem.
Mesmo quando saiu e se pôs de pé, nenhum dos presentes notou sua aproximação.
Ao dar a volta pela lateral da carruagem, viu a criada ajoelhada e chorando, enquanto Seolyeong encarava um homem de preto com ar ameaçador. O homem sorriu com desprezo e murmurou:
“Acreditar que eu deixaria vocês em paz? Que ingenuidade.”
Num movimento repentino, sacou uma adaga prateada.
“Morram amaldiçoando sua burrice por confiar em pessoas do mundo marcial!”
Mas a lâmina… nunca atingiu Seolyeong.
“Uagh!”
Um grito de dor ecoou sob o céu limpo. Junto com o sangue espalhado no ar, alguém exclamou:
“Espada de energia!”
Uma luz branca cortou o ar, vinda da direção onde Yeoil estava.
Todos os olhares se voltaram para ela.
“……”
Enquanto os homens hesitavam, chocados com a visão daquela mulher, Yeoil fixou o olhar no homem de preto que recuava, a mão sangrando, e declarou:
“Não me importo com o que acontecer com Namgung Soyo.”
“……”
“Mas apontar uma arma para o cocheiro que me levaria até o tanghulu de Tianzhushan… isso tem um preço.”
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Notas de tradução:
1: “Essa é a natureza de Jianghu” quer dizer que o mundo dos guerreiros não é justo nem estável, é governado por força, sobrevivência e interesse.