2
discord.gg/57pqYpva8m
Tradutor: Fleur Revisor: Fleur
Por um instante, o assassino esqueceu como se falava.
Será que tinha ouvido errado? Aqueles lábios delicados tinham mesmo dito “bunda”? E ainda por cima com um sorriso sutil?
“Se escrever com a bunda ‘Sou um assassino patético’, eu deixo você viver.”
Não, não tinha escutado errado. O assassino arregalou os olhos e gritou, furioso:
“Não me insulte! Acabe logo com isso e me mate de uma vez!”
Mas a resposta não veio de Namgung Soyo, e sim de trás dele.
“Tsc. Um assassino falando em ‘insulto’? Que piada.”
Com um movimento brusco, uma mão agarrou seu pescoço e forçou seu rosto a se virar. O homem de expressão rude e voz áspera era o criado que guiava a carruagem de Namgung Soyo.
“Chega de conversa. Responda com sinceridade. Quem te mandou atrás da senhorita? Foi o Namgung Jeokmyeong, não foi?”
Os dedos pressionavam com precisão os pontos vitais do assassino.
Aquele criado também não era alguém comum…
Definitivamente tinha pisado em terreno perigoso. O assassino soltou uma risada sarcástica.
“Ameaças não vão funcionar. Tenho um go implantado. Se eu disser o nome do mandante, meu coração para.”
“Gu?”
Gu era um tipo de parasita cultivado dentro do corpo humano. Quando manipulado por quem o implantou, podia torturar ou até matar o hospedeiro. Raros e perigosos, apenas seitas especialmente cruéis se atreviam a usá-los.
O criado rangeu os dentes ao ouvir aquilo, depois suspirou e se virou para Namgung Soyo.
“Haah… Isso aqui tá ficando cada vez mais podre, senhorita. Isso não é azar comum, é azar de nascença. Quem em sã consciência manda um assassino atrás da meia-irmã que nem conhece, só porque têm sangue diferente? Que tipo de família podre faz isso?”
“Controle suas palavras, Seolyeong. Ele ainda não mencionou o nome de Namgung Jeokmyeong.”
Pelo visto, eles suspeitavam que o mandante fosse mesmo Namgung Jeokmyeong.
Namgung Jeokmyeong.
O herdeiro da família Namgung. Dos três irmãos diretos, era o mais talentoso nas artes marciais. Um espadachim tão renomado que seu nome circulava até entre os grandes mestres.
Mas isso era passado.
Hoje, Namgung Jeokmyeong não passava de um libertino afogado em álcool e prazeres.
Estão mesmo desconfiando dele?
Se era esse tipo de homem, então realmente era um lixo. Mas o assassino não se importava com isso. Sua missão era simples: eliminar Namgung Soyo. E ele não sabia quem havia feito o pedido.
“Senhorita, precisamos descer a montanha antes que anoiteça. Deixe isso comigo e vá descansar na carruagem.”
“Não precisa se apressar. Uma dama de família nobre deve sempre cumprir o que promete.”
“Lá vem ela com esse papo de dama nobre…”
Namgung Soyo sorriu de leve e voltou a encarar o assassino.
“Bunda.”
Lá estava de novo, aquela palavra maldita.
“Já esqueceu? Escreva com a bunda ‘Sou um assassino patético’ e eu deixo você viver.”
Era tanta loucura que o assassino ficou genuinamente abalado.
Quem… quem é essa mulher, afinal?
Será que ela aprendeu a lutar depois de ser expulsa? Mas com quem? E não diziam que era cega? Como enxergava tão bem?
Não… talvez tudo estivesse errado desde o começo. Aquela mulher… seria mesmo Namgung Soyo?
Foi então que ela levantou três dedos.
“Três.”
Depois, abaixou um.
“Dois.”
E restou apenas o indicador.
“Um.”
…Maldição!
No fim, o instinto de sobrevivência era vergonhoso.
Sem conseguir resistir à pressão, o assassino pulou de pé, virou-se para onde Namgung Soyo estava e empinou a bunda.
Com os dentes cerrados, movia os quadris com raiva, desenhando as palavras: “Sou um assassino patético”.
Depois de passar por aquela humilhação, tentou manter a dignidade enquanto se endireitava e perguntou, com o rosto em chamas:
“Pronto, satisfeita?”
A resposta foi fria como gelo.
“Reprovado.”
“…O quê?”
“Faltou confiança. Faltou dignidade. Faltou precisão. Faltou velocidade. Faltou estética.”
Ela contava nos dedos, polegar, indicador, médio, anelar, mínimo, com a seriedade de uma juíza no tribunal.
“Quatro falhas no total. Condeno você à execução simbólica. Seolyeong, cave um buraco e enterre esse assassino. Mas deixa a cabeça pra fora, ele ainda precisa respirar.”
Além de insana, ela ainda errava a conta. Foram cinco falhas, não quatro.
“Haah. Senhorita, devia ter me deixado resolver isso desde o começo. Enterrar alguém… que perda de tempo. Francamente…”
Mesmo resmungando, o criado se ajoelhou e começou a cavar. Era um escárnio. O rosto do assassino ficou vermelho de raiva.
“Mas que…!”
Seu grito cheio de fúria nem chegou a ecoar. Num piscar de olhos, algo atingiu seus pontos de pressão e seu corpo caiu como uma marionete sem cordas.
Aquela técnica… pontos de pressão…
O mundo escureceu.
“Ugh!”
Quanto tempo se passou?
O assassino recobrou a consciência e tentou se levantar.
Tentou.
“O… o quê…?”
Não era imaginação. Sua visão estava muito mais baixa.
Ficou sem palavras.
Seu corpo inteiro, exceto pela cabeça, estava enterrado no chão.
Lutando contra a terra, ele gritou:
“Q-que absurdo é esse?! Eu fiz tudo que ela mandou! Como podem quebrar a promessa assim?! Não sentem vergonha pelo nome da família Namgung?!”
Enquanto dava leves batidinhas com a ponta do pé na terra ao redor da cabeça dele, o criado respondeu entediado:
“Vergonha, meu rabo. Desde quando a gente cumpre promessa feita a assassino de aluguel? Só um idiota confiaria nisso.”
“Cale-se! Me mate logo, então!”
“Você acha que eu queria te poupar? Foi a senhorita que teve misericórdia. Se fosse por mim, você já tava no inferno. Então aproveita esse favor e cala a boca.”
E enfiou um punhado de terra na boca do homem.
Enquanto o assassino cuspia desesperado, Namgung Soyo e Seolyeong já voltavam para a carruagem.
Com a boca seca, o assassino gritou com todas as forças:
“Namgung Soyo! Se me deixar vivo, vai se arrepender amargamente!”
De costas, ela cantarolava suavemente.
“Um dia, o Imperador Yang, todo arrogante, disse ao Mestre Dharma…”
“Você acha que pode escapar de nós? Somos dezenas, centenas! Se me deixar vivo, vou espalhar ao mundo quem você é! Os melhores assassinos virão atrás de você!”
Sua voz já começava a tremer.
Por mais que tentasse, braços e pernas não respondiam. A terra ao redor estava compacta como pedra. Se fosse deixado ali, morreria apodrecendo.
“O Imperador disse: ‘Construi templos, compilei sutras, ajudei monges… O Mestre Dharma não acha que acumulei muitos méritos?’”
Morrer pela espada de Namgung Soyo teria sido uma morte digna. Aquilo, no entanto, era puro desprezo.
“Não será só você! Sua família, seus amigos, seus servos… todos vão pagar! Me mate logo, Namgung Soyo! Se me deixar aqui, é como matar todos eles com suas próprias mãos!”
“E o Mestre Dharma respondeu…”
A porta da carruagem se fechou devagar. A voz de Namgung Soyo sumia junto da névoa que cobria a Montanha Cheonju.
O assassino, ofegante, olhos vermelhos de raiva, gritou:
“Prepare o pescoço e me espere, Namgung Soyo! Eu voltarei do inferno só pra te encontrar!”
Nesse instante, a porta da carruagem se escancarou.
O assassino congelou. Então viu o rostinho de Namgung Soyo surgir entre a fresta.
“E o Mestre Dharma respondeu…”
“……”
“Na volta, quero tanghulu.¹”
E a carruagem desceu suavemente a montanha, balançando em ritmo quase dançante.
Quando o sol começou a se pôr…
Seolyeong, guiando a carruagem e ajustando o colarinho, perguntou:
“Por que deixou aquele homem viver, senhorita?”
A resposta demorou.
“O Imperador Yang disse…”
“Ah, por favor. Sempre que não quer responder, vem com essa história do Mestre Dharma. Um dia ele vai levantar do túmulo só pra reclamar.”
Ouvindo a risadinha baixa atrás de si, Seolyeong apenas balançou a cabeça.
Mesmo conhecendo rios profundos, Seolyeong nunca conseguia decifrar os pensamentos de Namgung Soyo… ou melhor, Yeoil, como a chamava de verdade.
Ele a seguia como a uma senhora, obedecendo em tudo. Mas, às vezes, se perguntava o que se passava na mente dela.
Como naquele dia, quando do nada ela disse que assumiria a identidade de Namgung Soyo.
“Essa névoa cinzenta me faz pensar em tanghulu, Seolyeong. Aquele doce com um sabor curioso e misterioso.”
“É mesmo? Pensar que tudo começou por causa disso… Um mês atrás, atravessamos as Montanhas Cheonju só por tanghulu. Agora estamos aqui, fingindo ser da família Namgung. Quem diria que esse docinho causaria tanta confusão.”
Yeoil sorriu de novo.
As memórias daquele dia estavam frescas como se tivessem acontecido ontem. E em sua mente, as cores eram tão vivas quanto nunca.
Como Seolyeong bem dissera, a razão por trás de Yeil assumir essa identidade absurda de filha da família Namgung tinha começado há apenas um mês… quando ela atravessou as Montanhas Cheonju em busca de tanghulu.
“Ou melhor dizendo…”
A verdade é que tudo começou quatro anos atrás.
Quando ela desertou da mais temida organização de assassinos do continente: o infame Salmak.
 ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄ ̄
Notas de tradução:
1: Tanghulu é um doce tradicional chinês feito de frutas, geralmente morangos, espetadas em um palito e cobertas por uma camada crocante de açúcar cristalizado.