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Tradutor: Fleur Revisor: Fleur
“A criada disse que naquela madrugada ouviu um grito horrível.”
Com a voz cochichada vindo de trás, Chang’a parou no meio do passo, congelada.
“Dizem que no chão havia marcas nítidas de sangue.”
“Ah, deve ser mentira. Ou talvez seja algum ferimento da própria senhorita.”
“É justamente porque não parecia ser isso que estão comentando! Falaram que havia sangue escuro arrastado do quarto da senhorita até lá fora…”
Naquele instante, Chang’a pensou:
“Como a senhorita Soyo disse… o inevitável chegou.”
‘Espalhar um rumor desses… Que tipo de plano, não, que tipo de estratégia ela armou?’
Três dias antes disso, Namgung Soyo a chamara discretamente e deu a seguinte ordem:
“Logo, um boato curioso vai se espalhar entre os empregados. Finja que não sabe de nada, Chang’a.”
Na hora, ela não entendeu muito bem. Mas desde a manhã anterior, era impossível ignorar. Os boatos bizarros estavam, de fato, se espalhando por toda a família Namgung.
Embora a ordem fosse fingir, a verdade era que Chang’a realmente não sabia de nada.
Ela não tinha a menor ideia de como boatos tão absurdos haviam começado enquanto ela dormia.
“Até os guardas noturnos ouviram. Com certeza está acontecendo alguma coisa horrível naquele quarto todas as noites.”
“N-não me diga que a senhorita é algum tipo de monstro que devora pessoas…”
“Xiu!”
As criadas olhavam de esguelha para Chang’a. Seus lábios já estavam fazendo bico, inflados de frustração.
‘A senhorita disse para não ficar com raiva de nenhum comentário, mas…’
Mesmo que fosse tudo parte de um plano, ouvir esses absurdos envolvendo o nome da senhorita era insuportável.
“Será que a Chang’a não sabe a verdade?”
“Ei, Chang’a. Você já notou algo estranho na sua senhorita?”
“Nada!”
Bufando de raiva, Chang’a se levantou com as roupas de verão recém-dobradas nos braços.
As outras criadas cochicharam: “Se não fosse verdade, por que ela reagiria assim?” e concluíram que com certeza Namgung Soyo escondia algum segredo inconfessável.
‘Idiotas. Comer gente? Vocês nem sabem o quão incrível ela é como guerreira.’
Bufando, Chang’a chegou ao quarto da senhorita. Namgung Soyo estava trocando de roupa, vestindo os trajes que Chang’a havia dobrado cuidadosamente.
“Ah, senhorita! Eu deveria ajudá-la com isso!”
“Consigo me vestir sozinha. Não estou com os olhos fechados aqui dentro, afinal.”
“Mas isso é trabalho meu, senhorita! Moças de uma família nobre não devem se vestir sozinhas!”
“Isso é o regulamento mais absurdo que já ouvi. Então mãos normais devem apodrecer como madeira velha? As mãos das jovens nobres vão acabar cheias de musgo desse jeito.”
Changa correu até ela e a ajudou com a roupa.
“Senhorita, os boatos entre as criadas estão ficando cada vez mais esquisitos.”
“Sim.”
“Eu… eu vou saber a verdade sobre isso algum dia?”
Chang’a teve medo de ouvir algo como: “Você não precisa saber, criada.” Mas Namgung Soyo apenas sorriu com gentileza.
“Descobrir a verdade depois é sempre mais divertido, não é? Espere só um pouco, Chang’a. Logo você também saberá o que é verdade.”
Ao ouvir isso, Chang’a ficou de ótimo humor.
Afinal, sua senhorita era mesmo uma pessoa doce.
‘Habilidade absurda com a espada, pele branca como porcelana, beleza de fada, sempre calma e gentil… E ela ainda me acolheu. Tive muita sorte.’
Mas afinal… quem era ela de verdade?
Talvez, como aquele assassino dissera, fosse uma mestra reclusa de verdade? Perdida em devaneios, Chang’a percebeu algo estranho sob seus dedos.
‘Hmm?’
Achando que era imaginação, tocou de novo. Mas no lugar da pele lisa de sempre, sentiu uma superfície escorregadia, como uma cicatriz de queimadura. Era na região logo acima do osso esquerdo do ombro nas costas.
“Esse lugar está… diferente.”
“Ah, é? Senhorita, por acaso a senhora já se feriu nessa parte, há muito tempo?”
Por fora, parecia tudo normal, mas ao toque, era como uma velha queimadura. Uma sensação estranha.
Chang’a esperou em silêncio, mas Namgung Soyo apenas sorriu e não respondeu.
‘Ela não quer falar sobre isso? Haa… que estúpida eu sou. Nunca mais vou fazer esse tipo de pergunta sem pensar.’
Com essa promessa em mente, Chang’a saiu do quarto e logo avistou alguém vindo em sua direção, com um andar familiar. Reconhecendo a pessoa, correu de volta ao quarto.
“Senhorita Soyo! Temos visita!”
Animada, pulando de alegria, sua voz acordou Seolyeong, que cochilava na janela.
“Visita? Parece que os rumores estão surtindo efeito, hein.”
Seolyeong lançou um olhar curioso para a porta. E então, a primeira visita de Namgung Soyo entrou no quarto.
“…Haa.”
Com um rosto de quem esperava mais, Seolyeong suspirou fundo.
“Namgung Soyo.”
“Huimyeong.”
Era ele, o terceiro filho da família Namgung, Namgung Huimyeong.
Entrou no quarto como se fosse o dono do lugar. Mas havia algo em seu olhar — um tom gélido, como se tivesse vindo para confrontar ou intimidar.
Ao ver a bainha de espada pendendo do seu cinto, Seolyeong se postou à frente de Yeoil, empunhando sua arma. Foi uma reação ágil, que arrancou uma risada do visitante.
“Vai sacar a espada contra mim? Quer morrer? Não vim aqui para lutar, só tenho algo a dizer.”
“Então diga de longe.”
“O quê? De longe? Que criado insolente é esse que anda solta por aqui… tsc.”
Huimyeong rangeu os dentes e respirou fundo, tentando conter o temperamento. E então falou:
“…Ei, Namgung Soyo. Da outra vez, você ficou me dizendo coisas sobre os sentimentos por trás da minha espada. Hoje, sinto algo estranho de novo. Venha comigo e veja por si mesma. Agora.”
Apesar de ser um pedido, o tom era completamente autoritário. Ele se virou e saiu andando sem esperar resposta.
Seolyeong ficou incrédulo.
“O som da espada? Sentimentos? A senhorita por acaso andou ensinando espada para esse moleque? O que tem de tão fofo nele, hein?”
“Foi só um comentário. Ele estava se esforçando, e achei que valia uma palavra. Mas estou curiosa se fez alguma diferença. Vamos, Seolyeong.”
“Hmpf. Os que eu realmente queria que viessem, nada. E olha só quem apareceu, um espadachim.”
Yeoil ignorou o resmungo e, apoiada por Seolyeong, seguiu Namgung Huimyeong à distância.
Logo chegaram à mesma macieira da última vez. O jovem os viu e apontou.
“Pode sentá-la ali.”
Ele indicou uma pequena cabana de telhado verde ao lado do lago.
Mal Yeoil se sentou no pavilhão, Huimyeong começou sua dança com a espada. Ela observava com um olho entreaberto, ora espiando Seolyeong ao lado, ora rindo por dentro.
‘Está bem mexido.’
Apesar da aparência forte e da expressão dura, Seolyeong não era muito mais velha que Huimyeong.
Yeoil só havia lhe ensinado o suficiente para não levar surra na rua, mas Seolyeong, com talento natural, aprendeu rápido e progrediu muito.
Durante o ano anterior, só andaram por vilas e montanhas e lá, ela estava muito à frente de qualquer jovem da mesma idade.
Mas a família Namgung… era diferente.
Um dos Clãs dos Cinco Grandes. Uma casa lendária, cujo nome era sinônimo de perfeição em espada. Totalmente fora de escala.
Expandir os horizontes de Seolyeong era, por si só, uma das razões valiosas para ter vindo até aqui.
Claro, o objetivo principal era outro…
[Você está tramando algo, não está? Quão perigoso é esse plano, afinal?]
Mas se Seolyeong ficasse questionando o tempo todo, seria um incômodo. Por isso, Yeoil só esperava que ele treinasse até desmaiar de exaustão todas as noites.
Enquanto pensava nisso, Yeoil provou o chá à sua frente e murmurou:
“Interessante.”
Foi apenas uma observação casual, mas Huimyeong ouviu com clareza e virou-se com os olhos arregalados.
“O que isso quer dizer?”
“Só acho interessante que o senhor tenha prestado atenção no que eu disse. Pelo som da sua espada, percebi que não ignorou minhas palavras.”
“…Está dizendo que estou menos hesitante?”
“Está curioso?”
Com um leve sorriso, Yeoil observou Huimyeong levantar uma sobrancelha.
“Se vier com esse papo de segredo outra vez, é melhor nem abrir a boca. Só quero saber se estou melhorando ou não.”
“Está bem.”
Ao receber a resposta direta, ele ergueu a outra sobrancelha. Yeoil reprimiu o riso e girou a xícara entre os dedos.
“A sua espada… é a famosa técnica da família Namgung, não é? Entre todos os sons de espadas que ouvi, o seu é especialmente feroz e dominante.”
“…É.”
“Os irmãos têm estilos parecidos? O herdeiro também deve ter um som semelhante ao seu.”
“O quê?! Você está maluca? Me comparar com o grande irmão? Ficou louca?”
Huimyeong perdeu a compostura de novo, pisando forte com raiva.
Mesmo se aguentasse críticas a si mesmo, não deixava ninguém falar mal do irmão mais velho.
“O herdeiro é tão impressionante assim?”
“Impressionante?! Ele é um dos famosos Quatro Dragões da Lança! Conhecido como Namgung Jeongmyeong, o Golpe Único! O maior espadachim da geração atual, reconhecido por todos em Jianghu!”
Namgung Jeongmyeong, o Golpe Único.
‘Que título luxuoso.’
Os Quatro Dragões da Lança eram os quatro mais poderosos jovens guerreiros do momento. E entre eles, o título de “Golpe Único” pertencia a Jeongmyeong, sinal de que sua habilidade superava a dos outros três.
‘E ainda assim… está com fama de beberrão e cafajeste.’
Bem interessante.