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Tradutor: Fleur Revisor: Fleur
Próximo das Montanhas Cheonju.
Ali, um assassino continha a respiração, atento à trilha à frente.
Uma carruagem avançava lentamente através da névoa, até parar diante de uma floresta isolada.
Não havia sinal de vida por perto, algo compreensível, considerando o longo desvio feito para evitar um perigoso precipício. Toda precaução era pouco.
“Senhorita, acredito que seja sensato descansarmos aqui um pouco antes de seguirmos viagem.”
Logo em seguida, o criado abriu a porta da carruagem.
A mulher que desceu, apoiando-se com delicadeza na mão do servo, exibia uma postura tão distinta que era difícil crer que viajasse sozinha, com apenas um criado e uma carruagem simples, em meio àquelas montanhas.
O assassino, escondido atrás de uma árvore, inspirou fundo.
“Chegou a hora.”
Por fim, colheria os frutos por tê-la seguido por tantos dias. Seus olhos não perdiam nenhum detalhe dos passos calmos da mulher.
“Sente-se aqui e descanse um pouco. Vou procurar algo para comermos.”
“Você tem se esforçado muito, Seolyeong.”
“Por favor, não me elogie assim.”
Assim que o criado se afastou, a jovem soltou um leve suspiro. O assassino, aproximando-se sem fazer ruído, murmurou o nome dela em pensamento.
Namgung Soyo.
Cerca de duas semanas atrás, ela reaparecera como filha ilegítima da ilustre família Namgung.
Irmã mais nova de Namgung Jeokmyeong, o chefe da família, dez anos mais jovem. Desde o nascimento, era de saúde frágil, e vivera reclusa nas profundezas das montanhas sob cuidados médicos.
Ou, ao menos, era essa a versão que foi contada.
Na verdade, ela havia sido praticamente banida além das Montanhas Cheonju.
Agora, tendo atingido a idade para se casar, fora chamada de volta, apenas para ser enviada novamente para terras ainda mais distantes, como se estivessem se livrando dela. Um tratamento frio ao ponto da crueldade.
“Será que o chefe da família a despreza tanto assim?”
Difícil acreditar. A conduta da filha ilegítima sempre fora discreta e exemplar.
Diziam que o velho Namgung, debilitado e solitário desde a morte repentina da esposa, sofria de uma doença da alma, um pesar que nunca conseguiu superar.
Era curioso pensar que o lendário Dragão Trovejante estivesse prestes a sucumbir por algo tão… mundano.
Afinal, quando se encara o rio que leva ao submundo, é comum que os homens busquem aliviar os pecados do passado. E se ela realmente fosse sua filha, talvez quisesse ao menos uma chance de demonstrar arrependimento.
“Não é da minha conta.”
O assassino estalou a língua, afastando os pensamentos inúteis, e avançou.
“O Imperador Yang¹ perguntou ao Mestre Dharma²…”
De repente, uma voz suave cortou o silêncio das montanhas.
“‘Tendo eu construído templos e compilado sutras, auxiliado monges, qual seria, então, o tamanho do meu mérito?’”
Era a voz de Namgung Soyo, límpida como a de uma celestial, mas carregada de uma frieza vazia.
“E o Mestre Dharma respondeu…”
No instante em que o assassino se aproximava, seus olhos cruzaram com os dela.
“‘Nenhum mérito existe.’”
Um leve suspiro escapou involuntariamente dos lábios do assassino.
De fato, era uma flor solitária.
O rosto pálido e delicado, com cílios que tremulavam como asas de borboleta. A testa suavemente ampla e o pequeno nariz compunham um equilíbrio perfeito. O canto dos lábios, ligeiramente curvado, parecia exalar o perfume de uma íris.
Apesar de sua aparência ser mais firme do que diziam os rumores, seus gestos delicados revelavam uma nobreza inegável.
Mesmo sendo apenas uma filha ilegítima.
Mas aquele breve suspiro pareceu chamá-la.
Ela virou o rosto na direção dele. Não com exatidão, mas o suficiente para deixá-lo em alerta.
“Seolyeong?”
Sim… aquela flor infortunada era cega.
O assassino não respondeu. Apertou o punho em torno da adaga. Sua missão era clara: eliminar aquela mulher marcada pela tragédia.
Talvez pela ausência de resposta, ou por puro instinto, Namgung Soyo recuou um passo e voltou a perguntar:
“Quem está aí?”
“…”
“Você veio sob ordens de quem?”
Seria pela cegueira? Ou por pura intuição? Aquela jovem tinha uma percepção afiada. Talvez já estivesse acostumada a situações assim.
“Quem é essa mulher, afinal?”
Até então, estivera sob a guarda dos maiores espadachins do continente. Mas hoje, não.
O assassino aguardou por três dias por esse momento: o único em que Namgung Soyo estaria sozinha.
Agora era a hora.
Diante da lâmina prestes a ser empunhada, Namgung Soyo permanecia serena e frágil. Não fugiu. Nem sequer se mexeu. Aquela quietude despertou algo no assassino. Contra todo instinto, ele disse:
“Senhorita Namgung. Se entregar seu pescoço sem resistência, prometo que não sentirá dor.”
Namgung Soyo balançou a cabeça, calma.
“Perguntei sob ordens de quem veio.”
“Não posso revelar.”
“Foi meu irmão, Namgung Jeokmyeong?”
“Já disse que não posso dizer.”
Por algum motivo, ela continuava estranhamente tranquila.
Mesmo isolados, um simples grito poderia chamar atenção. O assassino afastou qualquer traço de piedade e lançou a lâmina em direção ao coração da jovem.
Mas o inesperado aconteceu.
“Vendo, não vi. Encontrando, não encontrei.”
As mangas de seu hanbok³ verde-azulado ondularam como ondas, preenchendo o espaço ao redor.
“Antes e agora… só restaram mágoas e arrependimentos.”
Sua voz, bela como um canto suave, parecia sussurrar no ouvido.
E então, como uma boneca branca que deveria estar distante, seu rosto surgiu repentinamente bem diante dele.
“O quê…!”
Naquele instante, o assassino percebeu: os olhos de Namgung Soyo estavam cravados no seu rosto.
“Droga.”
Instintivamente, tentou desembainhar a espada. Mas era tarde. Uma força invisível esmagava sua mão, impedindo qualquer movimento.
Era aquilo um sonho? Como alguém de mãos tão delicadas podia dominá-lo com tamanha facilidade?
Por um momento, ela o libertou.
“Agora!”
Ele sacou a espada, mirando o pescoço dela.
Ou, ao menos, tentou.
Crack—
Sua lâmina foi bloqueada pela mesma adaga que ele havia lançado momentos antes. Um riso amargo escapou.
Mesmo com toda a energia concentrada…
“Mais uma vez.”
“De novo, só mais uma…”
“Dessa vez, com certeza…!”
Mas por mais que tentasse, nada mudava.
Namgung Soyo desviava de tudo com uma simples adaga. Era absurdo. Seus ataques pareciam de papel diante dela.
“Como… Como isso é possível?”
Um calafrio percorreu sua espinha.
Havia algo errado.
A mulher diante dele… era mesmo a indesejada Namgung Soyo?
Mas quando finalmente reconheceu o abismo entre eles, já era tarde.
Deixou a espada cair. Ela o observava em silêncio, com aquele olhar sereno.
“Lutar mais seria inútil, não é?”
Restava apenas um caminho.
Ele puxou a adaga escondida no peito, decidido a pôr fim à própria vida.
Mas nem isso conseguiu.
Whoosh—
“Ugh.”
A primeira adaga que ela lançara destruiu a segunda antes que pudesse usá-la.
Sem forças. Sem orgulho. Nem sequer pôde ranger os dentes. Apenas aceitou.
“Termine logo com isso.”
Fechou os olhos, pronto para morrer.
Mas o silêncio permaneceu.
Ao reabri-los, ela ainda estava ali. Intacta. Bela. Serena.
E então, com a mesma calma, Namgung Soyo disse:
“Bunda.”
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Notas de tradução:
1: O Imperador Yang, também conhecido como Yang Guang, foi o segundo imperador da dinastia Sui na China, reinando entre 604 e 618 d.C. Ele unificou a China após um longo período de divisão e é famoso por ter promovido grandes obras, como a construção do Grande Canal. No entanto, seu governo foi marcado por gastos excessivos, guerras e políticas opressivas que provocaram revoltas e acabaram causando a queda da dinastia Sui. Assim, ele foi um governante poderoso, mas controverso, cuja ambição e extravagância contribuíram para o fim de seu reinado.
2: Dharma é uma figura importante do budismo, hinduísmo e outras tradições indianas, com diferentes significados dependendo do contexto. No budismo, Dharma é o ensinamento de Buda, ou seja, o caminho para a iluminação.
3: O hanbok é a roupa trdicional da Coreia, usada em cerimônias e festas especiais. Ele é feito com tecidos leves e naturais, como seda, algodão ou ramie (uma fibra vegetal), que ajudam a criar o caimento solto e elegante.