Capítulo 19
✦♰✦ E Se o Papa Canalha se Tornar Competente ✦♰✦
tradução: manteiga • revisão: Dani
◈19. O Elixir Milagroso
Enquanto eu gritava para Luciana e Bliss capturarem a súcubo, ela continuava voando a toda velocidade, aumentando a distância entre nós a cada segundo.
Ao observar sua silhueta se afastando, não pude deixar de me preocupar:
‘Será que eles sequer têm habilidades de longo alcance que possam alcançá-la de tão longe?’
Minha preocupação, no entanto, foi breve.
Bliss retirou algo de seu inventário que parecia francamente ameaçador — uma arma semelhante a uma lâmina acorrentada.
‘Uma corrente… com uma lâmina presa?’
Era uma corrente pesada, com uma lâmina inclinada e afiada presa na extremidade, lembrando uma guilhotina.
Segurando a corrente, Bliss girou-a algumas vezes com facilidade antes de lançar um olhar para mim.
“O que eu faço depois que a pegar?”
“…Apenas capture. Não a mate.”
Ao ouvir minha resposta, Bliss assentiu brevemente antes de arremessar a enorme corrente com toda sua força na direção da súcubo.
‘Isso é algum tipo de item? Mas será que uma corrente dessas realmente alcança essa distância…?’
Não importava o quão forte fosse o lançamento — a corrente pesada e sua lâmina pareciam improváveis de alcançar a súcubo em fuga.
Além disso, uma parte de mim ainda suspeitava que Bliss talvez guardasse rancor da nossa última discussão e deixaria a súcubo escapar de propósito.
Apesar das minhas dúvidas, percebi que estava preocupado à toa.
‘Habilidade…’
No momento em que lançou a corrente com lâmina, Bliss ativou uma habilidade — [Ajuda dos Falecidos], uma habilidade de rank S.
Assim que a usou, espíritos errantes começaram a se reunir ao seu redor.
Essas almas inquietas se fundiram com a corrente, imbuindo-a com sua presença fantasmagórica.
Whoosh—
Um frio arrepiante percorreu a corrente, vibrando por toda sua extensão.
O que normalmente seria uma arma pesada com alcance limitado agora se estendia infinitamente, fortalecida pelos espíritos.
Percebendo que algo havia sido lançado em sua direção, a súcubo tentou mudar de direção no ar.
Mas foi um esforço em vão.
Os espíritos que habitavam a corrente com lâmina ajustaram sua trajetória em tempo real, torcendo-se e virando como se estivessem vivos.
A arma a perseguiu implacavelmente, enrolando-se em torno dela no meio do voo e a prendendo com força.
A súcubo se debateu, mas a corrente a envolveu tão completamente que ela não conseguia se mover.
“Kyaaaah!!”
A súcubo soltou um grito de gelar o sangue, único dos demônios, enquanto despencava em direção ao chão, amarrada firmemente pela corrente.
Ao ouvir seu lamento, soltei um suspiro pesado e caí lentamente.
“…Acabou… Certifiquem-se… de mantê-la presa…”
Com essas palavras finais, deixei as consequências nas mãos de Luciana e Bliss.
O alívio que se seguiu fez com que a consciência que eu vinha mantendo apenas pela força de vontade finalmente se rompesse, e eu mergulhei na escuridão.
Para ser honesto, até o momento em que desmaiei, eu havia esquecido completamente do conde.
Eu o deixara amarrado em uma área remota com a intenção de entregá-lo às autoridades depois, mas ele havia saído completamente da minha mente no caos que se seguiu.
Embora fosse tecnicamente um desperto, ele era apenas de rank F, sem habilidades notáveis.
Além disso, eu o havia amarrado firmemente com cordas, então não havia como ele se soltar ou escapar.
Mas… E se, naquele estado indefeso, ele tivesse sido encontrado por animais selvagens ou bandidos e morto?
Nesse caso, eu poderia acabar sendo acusado de assassinar um nobre.
Assim, no momento em que recuperei a consciência—
“Ahhh! O conde!! Eu esqueci…!!”
—me sentei na cama de um salto, gritando.
Eu provavelmente teria saído correndo do quarto naquele instante, se não fosse por Rubin, que estava me vigiando.
“Calma, Nike. O conde já foi preso e está sendo investigado por sequestro e fraude.”
Ainda grogue por ter acabado de acordar, pisquei enquanto Rubin me explicava a situação com calma.
“Ele está tentando provar que estava sob o efeito de uma habilidade de controle mental. Se conseguir provar isso, vão reconhecer sua capacidade mental reduzida e a pena pelo sequestro dos videntes será amenizada.”
“…Sério?”
“Sim. Mas o fato é que ele tentou encobrir o plano de sequestro aproveitando-se da sua perda de memória e ainda tentou extorquir uma compensação depois. Então a acusação de fraude vai permanecer.”
“E as filmagens daquele dia? O vídeo com as provas… A gente enviou direitinho? Você editou todas as partes em que eu usei os punhos, né?”
“Claro!”
Como se estivesse ofendido pela dúvida, Rubin balançou o rabo em protesto, como se dissesse: “Você me acha um tolo?”
“Todos os danos que você causou na propriedade do conde, assim como a chamada ‘agressão’, foram considerados justificáveis. Tudo foi feito para resgatar os videntes.”
“Ufa… Que alívio. Pelo menos posso respirar um pouco mais tranquilo agora.”
“O pessoal da igreja também foi informado de que você não teve culpa. As fofocas sobre você diminuíram bastante.”
“Valeu. Mas Rubin… você parece ter se adaptado à igreja bem rápido, hein?”
As fofocas cessando pelas minhas costas—Rubin não só parecia ter um bom entendimento da minha reputação dentro da igreja, como também demonstrava cuidado com a minha imagem.
Era impressionante como ele se adaptou tão bem, considerando que estava na catedral há apenas um ou dois dias.
Curioso sobre como ele já sabia tanto em tão pouco tempo, perguntei — mas a resposta foi completamente inesperada.
“Uma semana é mais do que suficiente pra entender as coisas.”
“…Uma semana? Espera aí, se você está aqui há uma semana—”
“Isso mesmo. Você… Você ficou inconsciente por uma semana inteira desde aquele dia.”
A voz dele carregava um tom gélido.
Naquele momento, os olhos triangulares de Rubin se estreitaram, e ele me encarou com uma expressão intensa.
“Você tem ideia de como me senti durante essa semana…? Você até disse que sempre viveria pelo menos um dia a mais do que eu, e mesmo assim foi lá e tratou seu corpo desse jeito… Você devia me deixar te morder pelo menos uma vez!”
Com suas quatro perninhas minúsculas, Rubin saltou energicamente no ar e mordeu de leve meu dedo.
Claro, foi uma mordida suave — tudo o que senti foi o toque quente e macio de seu focinho animal.
Deixei Rubin continuar mordiscando meu dedo enquanto meus pensamentos vagavam.
‘Uma semana… Meus ossos fraturados já estavam quase totalmente curados, mas parecia que o verdadeiro dano veio de ter esgotado minha energia divina até o limite.’
Eu havia forçado meu corpo robusto de rank S além do necessário, achando que ele aguentaria qualquer coisa.
Percebi que precisava ser mais cuidadoso daqui pra frente.
Por mais resistente que eu fosse, ultrapassar os limites da minha energia divina inevitavelmente cobraria um preço do meu corpo físico.
Por mais que eu quisesse ficar deitado um pouco mais—
“…E os videntes?”
Eu precisava verificar os mais importantes.
Rubin soltou meu dedo de suas pequenas presas e respondeu:
“A igreja está cuidando deles por enquanto.”
Depois, abaixando a voz em tom conspiratório, acrescentou:
“Oficialmente, foi anunciado que os videntes ‘escaparam da custódia do conde por conta própria’ e depois desapareceram. Você me disse pra mantê-los detidos, então eu obedeci, mas a igreja realmente não tem base legal pra mantê-los presos por tempo indefinido.”
“…Preciso vê-los.”
“Agora não é uma boa hora. Aqueles demônios não desmaiaram como você, mas estão quase como feras selvagens.”
“Feras…?”
“Eles não conseguem falar direito e atacam qualquer um que se aproxime. Devem ter consumido sua magia até o limite absoluto, a ponto de não conseguirem manter a sanidade.”
“Ah…”
Entendi o que Rubin quis dizer.
Sejam demônios, espíritos ou humanos, forçar o próprio poder até o extremo muitas vezes levava à perda da razão. Os jogadores hardcore da comunidade de <CRW> (Call of the Ruined Worlds) chamavam esse estado de “frenesi de último momento”.
Parecia que os videntes haviam entrado exatamente nessa condição.
‘Droga, ir vê-los agora não vai adiantar muito se nem conseguem conversar. Tenho que esperar até que se recuperem? Ainda assim, eu deveria ao menos checar seu estado.’
Decidido a ver por mim mesmo, saí de debaixo das cobertas.
Mas no momento em que pus um pé no chão—
Thud!
Uma lâmina cravou-se no chão a poucos centímetros do meu pé.
Um ataque?
Do nada?
Virei-me na direção de onde a arma foi lançada — a porta — procurando o lunático que ousou atirar uma lâmina em um paciente.
“Bliss…?”
Era ele.
A lâmina parecia estranhamente familiar, e ao olhar mais de perto, reconheci-a como a arma que Bliss usou para capturar a súcubo.
Fiquei sem palavras.
Um alto sacerdote entrando sorrateiramente e arremessando uma arma contra o papa recém-recuperado?
O absurdo da situação me fez girar a cabeça.
E então Bliss sorriu serenamente, acrescentando insulto à injúria ao dizer:
“Sua Santidade, seria extremamente preocupante se deixasse a cama. Precisa descansar e se recuperar.”
“Descansar…”
Repeti, estreitando os olhos.
“Parece que você precisa reaprender a língua imperial desde o básico. Até onde sei, ‘descansar’ não envolve jogar uma arma mortal em alguém sem aviso.”
Alcancei meu inventário e puxei minha fiel maça, gritando a plenos pulmões:
“Guardas! Tirem esse lunático daqui imediatamente! Guardas!!”
Os aposentos do papa estavam sempre sob vigilância.
Não importava o quão forte Nikellus fosse, ele não era invencível enquanto dormia, e deixar o papa desprotegido seria impensável.
Esperei que os guardas invadissem a qualquer momento e arrastassem Bliss para fora.
Mas—
“Os guardas não virão, Sua Santidade.”
Nunca esperei ouvir uma resposta — muito menos de Luciana, que de repente respondeu aos meus gritos por ajuda.
Vinda da janela, nada menos.
“Luciana?! Quando você chegou aqui? Espera… você está entrando pela janela agora mesmo?”
A visão dela — uma mulher que prezava pela compostura e pelo decoro acima de tudo — empoleirada no parapeito da janela depois de entrar sorrateiramente, causou tanta dissonância cognitiva que fiquei momentaneamente sem palavras.
Em contraste com meu choque, ela permaneceu tão composta e séria como sempre, respondendo com a máxima seriedade:
“Sim. Estive de guarda do lado de fora da janela por um tempo, caso Sua Santidade tentasse escapar por ela.”
“…Você poderia explicar isso de um jeito que meu cérebro consiga processar?”
“Graças aos seus feitos recentes, a Igreja conseguiu aliviar boa parte de suas dificuldades financeiras. No entanto, a verdade é que o senhor tem se colocado em perigo excessivo com muita frequência no processo.”
Antes que eu pudesse responder, Bliss se aproximou.
Com uma leve reverência, ele acrescentou às palavras de Luciana:
“Por essa razão, foi decidido na última reunião que a segurança de Sua Santidade deve ser significativamente reforçada.”
A reverência de Bliss trouxe seu rosto ao nível do meu, exibindo aquele sorriso insuportável.
Foi preciso tudo que eu tinha para não lhe dar uma cabeçada ali mesmo.
Infelizmente, Luciana — já posicionada atrás de mim — me conteve, impedindo que eu agisse por impulso.
Com o mesmo tom firme, ela continuou:
“Chegamos à compreensão de algo importante: até mesmo um instante de distração pode levar Sua Santidade diretamente ao perigo.”
Bliss voltou a intervir, suas palavras carregadas de uma cortesia venenosa:
“Por essa razão, pedimos sua compreensão, pois seus movimentos fora do quarto poderão ser… ligeiramente restritos por ora.”
Restritos?
‘Ligeiramente’ restritos?
Esse era o mesmo lunático que havia me lançado uma lâmina por simplesmente tentar sair da cama!
E agora ele ousava chamar isso de ‘ligeiramente’ restrito?
Ele claramente precisava refazer Imperial Básico 101.
Lancei um olhar para Luciana, suplicando em silêncio para que ela trouxesse um pouco de bom senso àquela loucura.
Mas, em vez disso, ela selou meu destino com uma observação assustadoramente calma.
“Se dependesse de mim, eu preferiria manter Sua Santidade amarrada à cama até que se recuperasse completamente. Mas imagino que isso seria um tanto desconfortável, não seria?”
Com isso, toda esperança de salvação vinda dela se dissipou no ar.
Para ser honesto, quando mencionaram pela primeira vez restringir minha liberdade, eu não levei a sério.
Só pensei comigo mesmo:
‘Eles não iriam realmente me prender, iriam? Provavelmente estão só me alertando para eu ficar quieto, como uma piada.’
Eu estava errado.
Bliss, Luciana e os outros altos sacerdotes estavam completamente sérios.
Eles realmente me confinaram ao quarto.
A justificativa?
As palavras de um curandeiro da Igreja que, após me diagnosticar com alguma habilidade especial, fez essa declaração sombria:
“Em termos bem extremos, Sua Santidade está atualmente semelhante a uma boneca de palha. Uma leve brisa poderia despedaçá-la em pó.”
O curandeiro não estava errado, mas sua metáfora dramática deu aos outros toda a desculpa de que precisavam para tomar medidas drásticas.
A energia divina dentro de uma pessoa não era apenas um poder — era praticamente sinônimo de sua força vital.
Tendo usado isso até o limite, não era surpresa que a durabilidade do meu corpo tivesse despencado.
Agora que o Sexto Grande Oráculo havia sido concluído com sucesso, fazia sentido descansar em silêncio, confinado a este quarto.
Mas havia um problema gritante.
Eu estava à beira da insanidade, tomado pela frustração de estar preso.
Os altos sacerdotes, que supostamente deveriam estar ocupados com suas próprias tarefas, revezavam-se em turnos de três horas para me vigiar.
Ficavam estacionados no meu quarto, ostensivamente para cuidar de mim, mas parecia mais um esforço coordenado para me suprimir.
Não pude deixar de pensar:
‘Esses chamados altos sacerdotes são mesmo tão desocupados que podem gastar seu tempo assim?’
Apesar de seus títulos grandiosos, esses chamados altos sacerdotes aparentemente haviam limpado suas agendas apenas para garantir que eu permanecesse preso.
E depois de suportar essa vigilância implacável por 24 horas inteiras, minha mente estava preenchida por um único pensamento: o desejo desesperado de liberdade.
‘Como posso fazer com que me deixem em paz?’
Primeiro, tentei pensar em uma solução fundamental para o problema.
A razão pela qual me tratavam como uma boneca de vidro frágil era porque, na verdade, meu corpo estava tão fraco quanto uma nesse momento.
Se minha condição física melhorasse, eles parariam de me vigiar tão de perto, e eu recuperaria a liberdade que tinha antes.
Mas meu estado atual era tão ruim que nem mesmo poções comuns faziam efeito.
Sem algum elixir milagroso, uma recuperação imediata parecia impossível.
…Um elixir milagroso?
No momento em que essa frase me passou pela mente, um pensamento específico me atingiu.
Havia uma poção conhecida como o “Elixir”, aclamada como uma cura milagrosa para todas as doenças.
Enquanto as poções de cura típicas apenas fechavam feridas, dizia-se que o Elixir revivia até mesmo aqueles à beira da morte.
Com apenas um gole, um paciente moribundo podia se levantar da cama como se nada tivesse acontecido.
Infelizmente, a receita do Elixir havia sido perdida há muito tempo, restando apenas como uma lenda.
‘Espera… isso pode ser…’
Uma ideia surgiu na minha mente, e sem hesitação, abri meu inventário.
Continua..