Capítulo 14
✦♰✦ E Se o Papa Canalha se Tornar Competente ✦♰✦
tradução: manteiga • revisão: Dani
◈ 14. Em busca de □□□□□ □□□ □□
pessoas comuns teriam demonstrado ao menos um lampejo de interesse pelo enigma da vidente.
mas o nikellus original não era alguém que se prestava a enigmas por gentileza.
por isso, ele ignorou as palavras da vidente e tentou acordar do sonho.
ele teria feito isso friamente — se não tivesse ouvido o comentário adicional da vidente.
— “esse sonho pertence a um sábio que viveu por centenas de anos. como sábio, ele conhecia as respostas para todos os problemas, inclusive a resposta para a própria pergunta que vossa graça está buscando desesperadamente.”
o nikellus original, intrigado com aquilo, finalmente prestou atenção.
os lábios da vidente se curvaram em um sorriso misterioso, como se já esperassem que nikellus demonstrasse interesse.
— “a resposta está aqui, na minha mão, então… venha me encontrar.”
em seguida, a vidente explicou:
se nikellus a resgatasse do cativeiro do conde, ela lhe concederia acesso ao sonho do sábio.
através desse sonho, ele poderia encontrar a resposta para o problema que vinha o atormentando.
a parte complicada era que o fragmento de memória que eu recuperei só chegava até aí.
não consegui me lembrar exatamente qual era o ‘problema’ que nikellus queria tanto resolver.
tentei cavar mais fundo na memória mais uma vez.
— “juro pela honra do meu clã: se você me resgatar, eu farei com que possa contemplar este sonho. então, você saberá □□□□□ □□□ □□”
por mais que eu tentasse, não conseguia me lembrar da parte mais crucial das palavras da vidente.
era como se alguém tivesse editado o áudio de propósito, deixando a voz distorcida e incompreensível.
o que era certo, no entanto, é que nikellus queria manter esse ‘problema’ que o afligia em segredo.
foi por isso que, quando foi resgatar a vidente em filma ridge, o fez sozinho e em segredo.
mesmo depois de causar um escândalo, quando luciana o interrogou, dizendo:
— “por que você teve que ir até filma ridge só pra causar confusão?”
a desculpa dele foi:
— “eu só não gostei da atitude deles.”
uma mentira descarada para esconder seu verdadeiro objetivo — o resgate da vidente.
‘o que será que era? o que a vidente mais antiga planejava revelar? que tipo de problema teria levado aquele insuportável nikellus a se aventurar sozinho pelo território do conde só para resgatá-la?’
perdido em pensamentos, cheguei a uma decisão.
estava claro que se tratava de um problema profundamente ligado à vida de nikellus.
aproveitando essa chance de resgatar a vidente, eu garantiria que ouviria a verdade diretamente dela.
— ah, chegamos! aquela vila onde a vidente supostamente está sendo mantida — não é aquela ali?
com a exclamação repentina de rubin, levantei a cabeça.
no alto de um penhasco, onde as ondas brancas se chocavam contra a costa, havia uma única vila branca, iluminada pela luz da lua, erguendo-se silenciosa contra o céu noturno.
tendo saído do prédio junto com bliss para procurar nikellus, luciana rompeu o silêncio com cautela.
— é estranho perguntar isso depois de você mesmo ter sugerido irmos atrás dele primeiro, mas… qual o motivo? sinceramente, não esperava que você se juntasse a nós tão facilmente.
claro, do ponto de vista de luciana, a ajuda de bliss era extremamente bem-vinda.
a vigilância da igreja sobre nikellus ainda era severa, então causar alvoroço para justificar a busca por ele não era uma opção.
imagina liderar um grupo cansado de cavaleiros no meio da noite só pra encontrá-lo desmaiado de bêbado numa taverna?
isso seria o suficiente para destruir o pouco de boa vontade que nikellus havia recuperado após seus recentes trabalhos arqueológicos.
diante dessas complicações, luciana se sentia grata pela participação silenciosa de bliss.
mas ainda assim, não conseguia evitar a estranheza — alguém como bliss, que odiava se envolver em assuntos complicados, concordar tão facilmente?
ao ouvir sua pergunta, os lábios de bliss se curvaram num leve sorriso.
— quando vejo sua santidade —
a primeira parte de sua resposta tranquila se misturou à próxima.
— ele me lembra meu irmão mais novo, aquele que deixei para trás no palácio imperial. eles têm até a mesma idade.
por um momento, luciana congelou no meio do passo.
o irmão mais novo de bliss — ele só podia estar se referindo a ernen van friske, o meio-irmão que o traiu e usurpou o trono.
era óbvio que bliss não guardava nada além de ódio pelo irmão que havia roubado seu lugar de direito.
e ainda assim, ali estava ele, dizendo que nikellus o fazia lembrar daquele irmão?
‘isso quer dizer que você quer matar o nikellus?’
era uma suposição natural.
mas essa interpretação não combinava com as ações de bliss — ele estava ajudando nikellus, não tentando machucá-lo.
ele queria matá-lo? ou… era outra coisa? queria protegê-lo?
luciana não sabia dizer.
incapaz de entender o que acabou de ouvir, luciana ficou parada no lugar, até que bliss a chamou:
— vamos logo. o vento está começando a ficar gelado. desse jeito, sua santidade vai acabar pegando um resfriado.
suas palavras eram ambíguas como sempre — estaria sendo sarcástico ou genuinamente preocupado? de qualquer forma, luciana retomou os passos.
o destino deles era os estábulos da catedral.
ao entrarem, em meio aos resfolegares dos cavalos, um outro som, estranho e baixo, chegou aos seus ouvidos.
— grrrr…
luciana se aproximou da origem do rosnado e acariciou gentilmente o focinho.
coberta de escamas que lembravam as de um dragão, a criatura era bem menor e fácil de montar.
conhecida como ‘fera de montaria’, era uma besta domesticada usada para transporte.
essas feras eram originalmente selvagens, mas haviam sido domadas com habilidades específicas, tornando-se tão controláveis quanto gado.
o que as diferenciava, no entanto, era sua habilidade de voar.
mais rápidas que cavalos comuns e incansáveis em longas distâncias, eram um meio de transporte inestimável para jornadas urgentes.
os dois sumos sacerdotes escolheram as duas montarias mais velozes da igreja e as levaram para fora.
— vamos começar.
ao ouvir as palavras de luciana, bliss assentiu levemente e ativou sua habilidade.
no mesmo instante, figuras tênues e borradas começaram a aparecer ao redor deles — seres normalmente invisíveis, mas inegavelmente presentes ao lado dos vivos.
luciana prendeu a respiração.
‘seriam esses os espíritos dos mortos, vagando por este mundo…?’
a habilidade que bliss acabou de usar era a técnica de rank S “ajuda dos que partiram”.
ela invocava almas errantes que ainda permaneciam no mundo mortal, permitindo ao conjurador buscar sua ajuda.
sob a influência da habilidade, os espíritos manifestados sussurraram suavemente nos ouvidos de bliss.
— grk-grk… grk… grrrr…
para luciana, não passavam de sons estranhos e inquietantes.
mas bliss parecia entender as palavras deles, assentindo como se confirmasse algo antes de se virar para ela.
— a costa sudoeste da cordilheira de filma. depois de derrotar todos os soldados da propriedade do conde de filma, sua santidade seguiu nessa direção.
— espera — o que você acabou de dizer?
— eu disse que, depois de eliminar os soldados da propriedade do conde de filma, sua santidade foi para a costa sudoeste da cordilheira.
— o que importa agora não é só pra onde ele foi… mas… você está me dizendo que sua santidade eliminou os soldados da propriedade…? e não que ele se desculpou…? os espíritos realmente disseram isso, com certeza?
luciana não conseguia acreditar no que tinha acabado de ouvir e repetiu a pergunta.
ela torcia por uma resposta diferente, mas bliss apenas assentiu em silêncio.
sua confusão se transformou rapidamente em raiva.
— por quê… por que ele faria isso…? depois de todo o esforço que tivemos pra preparar a compensação à propriedade de filma… por que de novo…!
— isso eu não sei. os espíritos que vagam por este mundo não sabem de tudo.
espíritos, ao contrário dos humanos, não estão presos ao espaço físico.
eles podem se mover livremente, por isso muitas vezes sabem de coisas que aconteceram longe.
por isso, com a ajuda deles, era fácil encontrar alguém.
mas eles só podiam compartilhar o que haviam testemunhado; não podiam contar os detalhes completos nem os motivos por trás das ações de uma pessoa.
para luciana, que não compreendia completamente a situação de nikellus, aquilo era preocupante.
foi então que o fantasma sussurrando para bliss contorceu seu rosto embaçado.
— ah… aah… AAAAAARGH! kyaaaaargh!!
um grito agudo explodiu do fantasma.
o som horrível fez um arrepio percorrer a espinha de luciana, fazendo cada pelo de seu corpo se eriçar.
mesmo sem entender a linguagem do espírito, ela soube instintivamente que havia algo terrivelmente errado.
— …o que foi isso? um grito? ou…
bliss, após desativar a habilidade e dispensar o espírito, olhou para luciana.
seu rosto, normalmente calmo, agora estava sério e tenso.
— os espíritos dizem que ‘nossa querida santidade’ logo enfrentará um ‘ser aterrorizante e perigoso’… um que o fará gritar.
assim como antes, na residência do conde, eu havia planejado inicialmente invadir a vila sem pensar, mas após reconsiderar, mudei o plano.
diferente de antes, quando não havia motivo para hesitação, agora eu tinha certeza de que a vidente estava sendo mantida como refém ali dentro.
para garantir a segurança dela, eu não podia agir de forma imprudente.
então, por ora, me escondi em uma floresta próxima, observando a vila com um telescópio de alta performance que o rubin havia me emprestado…
‘as defesas estão muito mais fracas do que eu esperava.’
era estranho.
pensando na resistência desesperada do conde, com os olhos arregalados tentando impedir que a vidente fosse levada, parecia óbvio que a vila estaria bem protegida.
afinal, era o lugar onde uma vidente tão valiosa estava sendo mantida em cativeiro — não havia como a segurança ser negligente.
e ainda assim, a vila diante de mim tinha assustadoramente poucos guardas.
‘é quase como se eles quisessem que a gente entrasse… espera, será que…?’
uma suspeita sombria surgiu de repente.
‘não… não pode ser.’
tentei afastar o pensamento, mas havia coisas demais que não faziam sentido.
depois de pensar um pouco, chamei o rubin, que esperava ali perto, encolhido.
— rubin. acho melhor eu entrar sozinho na vila.
— hã!? por quê!? é porque eu não vou ser muito útil?!
— não, não é isso… é só que isso tudo parece uma armadilha.
perguntei calmamente ao rubin, que agora estava visivelmente alarmado.
— lembra como você me disse que o conde estava sendo controlado por uma habilidade mental?
— lembro. você disse que parecia que ele tava sob o efeito de uma habilidade, mas a gente não sabia qual era.
— agora que penso bem, acho que era a habilidade de “encantamento”.
ao ouvir isso, rubin finalmente entendeu, soltando uma pequena exclamação com sua boquinha.
— ah! uma habilidade racial da espécie dos demônios do sonho…?!
— exatamente. a habilidade que as criaturas demônio do sonho usam pra seduzir e controlar a mente. o comportamento possessivo do conde antes deve ter sido causado pela habilidade de encantamento da vidente.
— você tá dizendo que a vidente usou o encantamento nele pra fazer ele ficar obcecado por ela? e depois levou ele a sequestrá-la?
— isso mesmo. então, isso significa que—
me levantei da posição agachada, ainda observando a vila, e continuei.
— tudo isso foi armado pela vidente. ela arquitetou tudo pra me atrair.
sempre achei estranho desde o início.
sendo quem era, a vidente provavelmente já tinha previsto que o conde a sequestraria, então por que ela se deixou ser capturada sem resistência?
‘talvez ela tenha sido descuidada e acabou sendo pega—’
pensei isso, mas agora eu tinha certeza de que não era o caso.
a vidente se deixou ser capturada intencionalmente, como parte de um plano pra me envolver.
a prova era clara — a segurança em volta da vila era fraca de propósito, quase como se estivesse tentando me atrair.
— mas por que a vidente faria algo assim? você fez alguma coisa pra irritar ela, niké?
— de jeito nenhum. eu não tenho a menor ideia do motivo. de qualquer forma, considerando o quão discretamente ela me atraiu, não parece que seja pra uma festa. tem 90% de chance disso ser uma armadilha.
afaguei gentilmente a cabecinha macia do rubin, tentando acalmá-lo.
— fica em segurança e me espera aqui, tá bom? o antigo centro de reparo dos polidroides já não existe mais, então, se você quebrar… não tem conserto.
— então você também não devia entrar! por que vai entrar sabendo que é uma armadilha!?
— bom… não dá pra evitar. tem alguém bem ruim me forçando a fazer essas coisas.
— alguém ruim?! quem é?! eu vou lá dar uma lição nessa pessoa!
dei um sorriso amargo ao ver o rubin mostrar os dentinhos e rosnar com bravura.
eu realmente apreciava o gesto, mas… rubin não fazia nem cócegas na pessoa por trás de tudo isso.
resolvi abrir a janela da profecia para revisar a tarefa atribuída a mim por aquela entidade absoluta — a “sexta profecia principal” que recebi quando cheguei aqui.
[profecia principal nº6 — capture os videntes mais antigos (em andamento)]
subprofecia (1): vá até o local onde os videntes mais antigos estão esperando! (completo)
subprofecia (2): capture os videntes mais antigos! (incompleto)
[lista de recompensas pela conclusão da profecia]
lágrimas sinceras de um prisioneiro condenado
250 pontos de karma
asas dobráveis de súcubo
Continua