Capítulo 17
A Escola de Magia Valhalla era uma construção colossal, comparável em escala à própria capital imperial.
Bastava sair um pouco da mansão Squire para se deparar com os muros brancos e torres de telhado azul-ardósia daquele colégio magnífico.
O Hotel Saint-Trio já tinha me impressionado ao vê-lo pessoalmente, mas Valhalla jogava em outro nível.
A paisagem parecia um quadro.
O grande rio cortando a cidade, a ponte desproporcional ao contexto histórico — uma incoerência arquitetônica fruto das limitações da época — e, para completar, um bando de pombas brancas cruzando os céus como ponto final poético naquela composição.
Mesmo vendo isso com os olhos, ainda parecia um cenário renderizado. Era difícil não se sentir emocionada. O coração acelerava, como se eu tivesse cruzado um portal para outro mundo.
O mais irônico é que até a carruagem em que eu estava era produto da minha equipe de desenvolvimento. E a garota sentada ao meu lado também.
Mesmo que não tenha feito tudo sozinha, essa sensação… parece que sou a própria criadora deste mundo.
A verdade, no entanto, era que eu era só uma pobre encarnada tentando sobreviver num universo repleto de armadilhas.
A escola já se aproximava no horizonte, e eu me pegava perdida em pensamentos. Era sinal de que meu coração finalmente começava a relaxar.
Afinal, o que mais me oprimia era, no fim das contas, a própria “família”. Ao me afastar da mansão Squire, percebi o quanto eu vivia em estado de tensão constante.
Mas não era só eu quem estava em clima de renovação.
Ding!
[A Constelação ‘Passe Romântico’ patrocinou com 1.000 moedas.]
[Vem bomba aí]_
Ding!
[A Constelação ‘Detector de Rostos’ patrocinou com 1.000 moedas.]
[Pronto pra escanear.]
Ding!
[A Constelação ‘Resposta Satisfatória’ patrocinou com 1.000 moedas.]
[As transmissões do Oxford sempre rendem bem, mas essa streamer em especial está se superando.]
O número de mensagens enviadas pelas Constelações hoje estava acima do normal. Senti que era hora de checar o meu status.
Janela de status.
▼
[Therese Squire]
Título: Filha do duque Squire
Idade: 22 anos
Classe de magia: B
Inteligência: B-
Mana: A (12.034 / 12.034)
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Foram poucos dias, mas devorar dúzias de grimórios fez minha inteligência subir um pouco.
Ainda assim, é pouco. Preciso estudar muito mais.
Chegamos a Valhalla. Enquanto descia da carruagem, pensei:
É meio triste pensar que provavelmente não terei mais motivo pra andar nessa carruagem.
Olhei para Libby.
— Que tal você usar essa carruagem pra ir e voltar da escola? É boa demais pra ficar parada.
Ela arregalou os olhos, surpresa, e logo seu rosto se tingiu de rosa.
— Vou tomar cuidado. Obrigada, irmã.
Bom, é sua mesmo…
Mas claro que não dava pra dizer isso, então apenas assenti com a cabeça.
Entramos no saguão misturadas à multidão de estudantes vestindo uniformes iguais.
Ouvir o burburinho animado das vozes era algo que ainda me deixava curiosa.
Como era o dia da cerimônia de abertura, os alunos caminhavam em bloco rumo ao grande auditório.
Acompanhei Libby na mesma direção.
— A cerimônia de entrada é no auditório principal. Vou te levar até lá.
O rosto dela, antes tenso, relaxou um pouco, e ela sorriu timidamente.
— Fico tão aliviada por estudar na mesma escola que você. Estava com medo.
— Medo?
— Ainda nem consigo acreditar que sou uma nobre… e agora estou estudando numa escola de magia para aristocratas. Eu nem sabia que tinha mana… É meio ridículo, né?
Fiquei sem palavras.
No jogo, Libby encontrava a família e, logo em seguida, entrava para Valhalla. Era uma progressão natural, até clichê.
Mas ver isso acontecer diante dos meus olhos fez o plano parecer cruel. Senti um aperto no peito.
— Não. Não tem nada de ridículo nisso. É um sentimento totalmente natural.
— …Sabia que você ia entender.
Murmurei um “desculpa” em voz tão baixa que ela não pôde ouvir.
Ela então se aproximou e falou, confusa:
— Irmã… é impressão minha ou… todo mundo está olhando pra gente?
Olhei em volta rapidamente.
Os estudantes que antes cochichavam agora desviavam o olhar, tensos como se tivessem sido pegos fazendo algo proibido.
Era como se eu fosse uma praga ambulante — uma bomba-relógio, uma assombração que lança maldições com o olhar.
Mesmo assim, por que ainda se atreviam a encarar?
Simples: Libby chamava atenção.
Ela era uma caloura bonita, e isso naturalmente atrai olhares.
— Isso é normal. Todo mundo olha para a novata bonita.
Ding!
[A Constelação ‘Passe Romântico’ patrocinou com 1.000 moedas.]
[Por que ainda não apareceu nenhum protagonista masculino e ela tá flertando com a heroína?!]
Enquanto eu bufava com o comentário estranho no chat, nem percebi que Libby estava corada de vergonha.
Foi nesse momento que uma comoção explodiu na entrada do saguão.
— Aaaaah! Damien! Olha pra cá!
— Damien, te amo!!
— Você está lindo hoje!
Entrando na contraluz do sol, surgiu ele.
Alto, atlético, com cabelo azul-marinho que esvoaçava de maneira perfeitamente estilizada a cada passo.
Damien West, um dos alvos de conquista.
Estreitei os olhos e o encarei por alguns segundos.
— Hm. Nada.
Não consegui extrair nada além da confirmação óbvia: Damien era muito bonito, até de longe.
— Vamos, Libby. Vamos pro auditório.
Ela ainda lançou um último olhar curioso pra Damien, mas logo me acompanhou com um aceno.
Enquanto caminhávamos, tomei cuidado para não olhar para trás.
O evento vai acontecer agora.
Era uma cena clássica de “Deleite dos Deuses”, no saguão lotado, Damien corria tentando fugir das fãs e acabava esbarrando acidentalmente na protagonista.
Bam!
— Ah, desculpa. Você está bem?
Levantei os olhos, surpresa, e encarei aqueles olhos dourados como velas acesas na escuridão.
— Não se machucou, Therese?
Ding!
[A Constelação ‘Detector de Rostos’ acena com grande aprovação.]
Graças ao sistema intrusivo, consegui manter a compostura.
Mas por que ele esbarrou em mim?!
Na versão original, Damien devia trombar com a Libby. Ele diria um “foi mal” apressado e seguiria caminho. Libby, surpresa, murmuraria “que cara estranho…”
Mais tarde, Damien apareceria sorrindo e diria, “Ah! Finalmente te achei.”
Mas tanto faz.
Afinal, eu estava aqui justamente para isso.
Mesmo que Libby não percebesse, Damien não poderia me ignorar — não só porque somos colegas de classe, mas também porque ele é bolsista da Fundação Squire.
Resolvi testar uma coisa.
Ficha de personagem — Damien.
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[Damien West]
Idade: 22 anos
Altura: 1,87m
Aniversário: 31 de janeiro
Gosta de: brinquedos, culinária, esportes
Não gosta de: nobres
Nível de afinidade: 🖤🤍🤍🤍🤍
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Os alvos de conquista mostram esse tipo de informação básica.
É com base nisso que você escolhe presentes, eventos e interações para subir o nível de afinidade.
Meus olhos deslizaram rapidamente pela ficha até pararem no nível de afinidade.
Então, dá pra conquistar os protagonistas masculinos mesmo jogando com a Therese…
Urgh. Em vez de alegria, aquilo só me deu dor de cabeça.
A afinidade funciona assim:
Quando você ganha corações vermelhos, há mudanças no comportamento do alvo.
De forma simples:
[🩷🤍🤍🤍🤍] → conhecidos
[🩷🩷🤍🤍🤍] → amigos
[🩷🩷🩷🤍🤍] → amizade íntima
[🩷🩷🩷🩷🤍] → clima de romance
[🩷🩷🩷🩷🩷] → final verdadeiro
Mas… e um coração preto?
Corações pretos indicam desconfiança, repulsa ou hostilidade. São o prelúdio da rota do final ruim.
Em resumo.
[🖤🤍🤍🤍🤍] → alerta
[🖤🖤🤍🤍🤍] → suspeita
[🖤🖤🖤🤍🤍] → ameaça
[🖤🖤🖤🖤🤍] → intenção hostil
[🖤🖤🖤🖤🖤] → final ruim
No momento, Damien estava no estágio de “alerta”.
Começar já com um coração preto… Ok, é a Therese, então meio que esperado. Mas ainda assim… cruel.
Ding!
[As Constelações consultam a explicação de Oswald sobre o sistema de afinidade.]
Ding!
[As Constelações estão curiosas sobre como a streamer vai conquistar os protagonistas masculinos.]