Capítulo 16

Mesmo entre os convidados VIP, os funcionários e os assentos designados variavam.

Acompanhei as criadas até o meu lugar enquanto a janela de patrocínios continuava apitando sem parar.

Com certeza, as reações das Constelações eram sempre melhores quando havia algo direto: vingança, reputação em alta, ou alguma recompensa material.

Mesmo que, no caso de agora, eu não tivesse feito isso por benefício próprio.

O salão do leilão parecia mais um teatro de luxo.

Sentei-me na primeira fileira, em uma poltrona larga, reservada à alta nobreza.

Alguns minutos depois, o mestre de cerimônias subiu ao palco.

— Senhoras e senhores, agradecemos sinceramente por abrilhantarem este evento com a sua presença.

Após as costumeiras palavras de boas-vindas e apresentações, o leilão começou de fato.

— Nosso primeiro item à venda!

Diferente dos demais, não me dei ao trabalho de folhear o catálogo.

Eu já sabia o que queria, a chave dimensional.

Os primeiros artigos foram sendo vendidos rapidamente, por preços razoáveis.

— Item número quinze. Uma chave mágica enviada por um patrocinador anônimo. Até hoje, nenhum mago conseguiu identificar que tipo de feitiço ela contém ou que tipo de tranca pode abrir.

Só então meu olhar se tornou mais atento.

— Segredos desconhecidos sempre atiçam a curiosidade dos colecionadores. Lance inicial, 300 mil gelangs. Lances mínimos de 50 mil.

Gelang era a moeda usada em Deleite dos Deuses.

O leilão seguiu morno, sem grandes disputas, até que o valor parou em 650 mil gelangs.

Afinal, por mais que fosse chamada de “chave mágica”, não passava de uma relíquia misteriosa para quem não sabia seu verdadeiro valor.

— Alguém oferece 650 mil gelangs? Esta é a última chamada. 650 mil—

650 mil. Um valor bem menor do que eu esperava.

Levantei a mão, e o mestre de cerimônias prontamente anunciou:

— Temos 650 mil gelangs. Alguém oferece 700 mil?

A chave antiga, enigmática e sem atrativos, não chamou atenção de mais ninguém. Arrematei por 650 mil gelangs, sem dificuldade.

Fiz parecer algo sem valor de propósito, mas ainda assim… impressionante.

A chave dimensional e o Paraíso eram, na verdade, easter eggs.

“Easter egg” — literalmente “ovo de Páscoa” — é como se chamam os elementos secretos e escondidos que os desenvolvedores colocam por diversão em jogos.

Preenchi um cheque em branco com o valor e entreguei.

Foi o item mais barato do dia.

Agora que consegui o que queria, não havia mais razão para permanecer ali.

— Vamos embora.

[Ding!]

[As Constelações demonstram curiosidade sobre o verdadeiro propósito da chave.]

[Ding!]

[A Constelação ‘Materialista Convicto’ suspira diante da compra sem graça.]

As próprias criadas pareciam perplexas com minha escolha.

— Ouvi dizer que a maioria veio hoje para disputar o “Rosário do Amor”, senhorita. A senhorita não está interessada?

O Rosário do Amor era um item que aumentava significativamente o atributo de charme, então obviamente não me interessava.

— Nah. Isso é chato. Esta chave mágica é muito mais valiosa que o rosário.

Elas sorriram, meio constrangidas, e assentiram com a cabeça.

— A senhorita anda mesmo muito dedicada à magia ultimamente. É admirável ver tanto empenho nos estudos…

Pareciam ter chegado à conclusão de que eu era uma excêntrica obcecada por magia.

E não dava pra explicar que aquela chave tinha um valor absolutamente extraordinário, então deixei por isso mesmo.

Voltamos à mansão sem problemas, e logo comecei os preparativos para dormir, como de costume.

— Tenha uma boa noite de descanso, senhorita.

As criadas deixaram o quarto, fechando a porta atrás de si.

Hora de pôr mãos à obra.

Peguei a chave dimensional e fui até um canto do quarto.

— Aposto que estavam curiosos sobre por que comprei essa chave… e por que escolhi este quarto escondido, não é?

[Ding!]

[As Constelações assentem com a cabeça.]

— Isto é um easter egg. E agora vou mostrar para que serve.

Era fundamental que nem as Constelações nem Ozwolrd descobrissem a utilidade real dessa chave.

Tenho que fazer parecer só uma chave para um cofre ou tesouro qualquer.

Empurrei um armário e, em um canto quase invisível da parede, encaixei a chave numa fenda minúscula.

Clac.

Um estalo soou, a chave brilhou com energia mágica e uma porta oculta se abriu lentamente.

— Luz, ilumine este interior.

Assim que conjurei a magia, o interior escuro revelou-se, pilhas e pilhas de barras de ouro, joias e adornos preciosos.

— Esta é a fortuna secreta do antigo duque Squire. Sem essa chave, ninguém poderia abrir este cofre.

[Ding!]

[A Constelação ‘Materialista Convicto’ patrocinou com 1.000 moedas.]

[Sabia que dava pra confiar!!]

— Ah, deve estar por aqui… um item de inventário.

Afinal, um mundo mágico precisa de um espaço de armazenamento dimensional portátil, né?

— Achei.

Injetei magia em um broche aparentemente comum. Logo, um inventário dimensional se abriu.

Configurei a área de absorção e armazenei tudo, ouro, joias, a própria chave dimensional… tudo dentro do broche.

[Ding!]

[As Constelações estão preocupadas com o que aconteceria se você perdesse o broche.]

— É um item vinculado. Não pode ser transferido nem roubado.

[Ding!]

[As Constelações estão satisfeitas com o sistema do jogo.]

Ufa. Tutorial concluído.

A partir de amanhã, Deleite dos Deuses começará de verdade.

— Estou um pouquinho curiosa.

Sobre como os protagonistas masculinos seriam ao vivo.