Capítulo 09
Tentei me soltar da mão dele, o rosto rígido, mas não adiantou nada.
— Solta.
— A biblioteca talvez seja melhor. É onde você tem passado mais tempo ultimamente, não é?
Nem força física, nem magia funcionavam.
— Solta essa porcaria agora!
Oswald sorriu, como se achasse meu desespero delicioso.
— Suas reações sempre fazem tudo valer a pena, senhorita Jiwoo.
Desgraçado. Ditadorzinho de merda. Nojento.
A impotência que me devorava até então evaporou como gota d’água diante do fogo.
Em seu lugar, veio uma raiva — não, ódio — ardente.
Eu vinha me odiando em silêncio, como sempre fazia… mas percebi que não precisava mais disso.
Afinal, o causador do meu inferno estava bem diante de mim.
Será que devia agradecer?
Claro que não. Mas também não ia deixar o ódio me dominar.
Aos olhos desse homem, eu era só um inseto. E um inseto esperto sabe como sobreviver.
Ele parecia gostar quando eu demonstrava medo ou repulsa. Um sádico de alma torta.
Então me acomodei com elegância e decidi aceitar a escolta.
— Vamos à biblioteca.
Oswald inclinou a cabeça, um canto da boca erguido num sorriso enviesado.
— Como quiser, senhorita Jiwoo.
Caminhamos lado a lado pelos corredores, parecendo um casal apaixonado.
Sempre que Oswald surgia, o tempo no mundo real congelava.
As pessoas ao redor paravam, como se alguém tivesse apertado pause num vídeo.
A cena era tão artificial que dava arrepios.
Será que tremi?
Senti o olhar dele pousar um instante na minha mão antes de se desviar.
— Está gostando das aulas de magia? Trouxemos conhecimento de um mundo com alta tecnologia arcana, e você parece ter se adaptado bem.
Era verdade — magia era um dos temas que mais me interessavam.
Mas não dei muita corda.
— Mais ou menos.
Não queria, de jeito nenhum, que ele achasse que eu estava satisfeita com essa nova vida.
Mudei de assunto.
— Uma dúvida. Quantos níveis de canal existem?
— São cinco no total. Bronze, Prata, Ouro, Platina e Diamante. A cada promoção, o limite de doações aumenta dez vezes.
Prata, então, significava poder receber até mil moedas por doação.
Mesmo no nível mais alto, Diamante, o máximo era cem mil moedas por vez. Como alguém conseguiria juntar dez bilhões com esse limite?
— Algum streamer já conseguiu comprar o vale-desejo?
Perguntei com desconfiança, e Oswald respondeu com naturalidade.
— Todos os streamers que escolhi conseguiram alcançar os 10 bilhões de moedas. Sem exceção. Você também conseguirá.
Péssimo incentivo, mas enfim.
Ele parou de andar e me lançou um olhar enviesado.
— Já se adaptou à possessão? Está bem mais ativa, percebi.
Aquele olhar penetrante me incomodava. Como se tentasse despir meus pensamentos.
Respondi o mais calma possível:
— Preciso das dez bilhões de moedas.
Oswald sorriu torto e voltou a caminhar.
— Uma excelente motivação. A julgar pela performance de hoje, sua curva de crescimento será impressionante.
Ele parecia convicto de que tinha feito a escolha certa.
Os olhos azul-escuros brilhavam com uma autoconfiança irritante.
Eu desviei o olhar e mudei de assunto — queria me livrar da sensação de estar sendo avaliada.
— As Constelações parecem bem familiarizadas com os memes da Terra. Como isso é possível?
— Parte é traduzida automaticamente para facilitar sua compreensão. Mas, de fato, muitos usam referências da Terra. É a civilização com maior produção de conteúdo midiático, afinal.
Justo quando ele terminou de falar, chegamos à biblioteca.
— Vamos entrar?
Criiic.
A porta rangia, mal lubrificada, mas se abriu por completo.
A força que me prendia desapareceu, e finalmente consegui me afastar.
— Vai fugir assim, como se estivesse esperando uma chance?
Oswald me seguiu lentamente, como um predador se aproximando da presa.
— Só não tenho mais perguntas.
Dei alguns passos para trás, mas minhas costas bateram em uma pilha de livros mal organizados.
CRASH!
Os volumes desabaram no chão.
Ele era imenso. Mesmo com aquele terno impecável, dava para ver que tinha o corpo de alguém acostumado ao combate.
Assustava só de olhar.
— Se tem algo a dizer, diga logo.
Não sou atriz. Quanto mais tempo passasse com ele, mais difícil seria esconder o que eu sentia.
— Dizer? Não tinha nada para dizer, na verdade.
Então por que apareceu?
— Como administrador do canal, tenho obrigação de checar seu desempenho. A maioria dos streamers costuma gostar da minha companhia.
Gostar…?
Dei um olhar confuso. E ele respondeu.
— Os outros streamers querem fazer amizade comigo. E você?
Era minha deixa para responder que sim.
Mas as palavras não saíram.
Oswald percebeu a hesitação. Seus olhos se estreitaram.
— Então não, é isso?
Foi instintivo. Abri a boca e confessei.
— Tenho medo de você.
As palavras saíram antes que eu pudesse controlar. Uma verdade vergonhosa, exposta como uma ferida aberta.
— Não sei se posso confiar… É só isso.
Mas claro que não era só isso, e ele deve ter notado.
Ainda assim, não me desmentiu.
Apenas afastou uma mecha do meu cabelo e disse com uma voz mansa, quase terna:
— Ainda não entendeu sua posição, não é, senhorita Jiwoo?
Seus dedos passaram pela minha orelha, desceram pelo maxilar até a nuca.
— Nós não somos aliados. Nem parceiros.
— …
— Você é um brinquedo, Jiwoo.
Com um leve toque, pressionou o ponto onde meu pulso batia mais forte.
— Não se esqueça do seu papel. Se quiser ser amada.
Filho da…
Oswald olhou o relógio e estalou a língua.
— Gostaria de ficar mais, mas tenho que ir. Acabei me estendendo demais nessa propaganda.
Toc.
A bengala tocou o chão. Senti a leve descarga de sempre.
O tempo voltou a fluir.
— A partir de agora, vou chamá-la de Therese. Ajuda a lembrar melhor do seu lugar.
— …
— Até a próxima.
Ele beijou de leve minha bochecha antes de desaparecer.
Talvez achasse que aquilo era um gesto cortês.
Mas me deu vontade de matá-lo.
Esfreguei a pele como se tivesse tocado algo imundo. A fricção deixou a área vermelha e ardida, mas continuei.
Meus olhos permaneceram fixos no lugar onde ele estivera.
Se houver uma forma de destruí-lo, eu não vou hesitar.
— Donovan.
Ao chamado do duque, o mordomo abaixou a cabeça em silêncio, aguardando instruções.
Raul não era de fumar charuto com frequência.
Mas, sempre que precisava pensar ou o humor azedava, ele acendia um.
Quase sempre por causa da Therese.
Hoje não parecia diferente.
— Fui mesmo tão negligente com a Therese?
— De forma alguma. Sempre se esforçou por ela, senhor.
Raul tragou fundo e soltou a fumaça junto com um suspiro.
O olhar se perdeu na névoa.
Talvez visse algo além daquela fumaça.
— Sempre achei que estava certo, Donovan. Mas hoje… ao olhar nos olhos daquela menina… senti um aperto no peito.
Ele pensou no salão de jantar, decorado com flores do jardim de inverno.
Na filha mais velha sentada ali, calma como nunca.
Therese andava estranha.
Em vez de arrumar confusão com a Libby, como sempre fazia para reafirmar seu posto como a verdadeira herdeira dos Squire… silêncio.
Estaria ela preparando algo?
Mas não. Desde então, permanecia quieta como um rato.
— Cheguei a pensar que era só uma nova forma de me provocar.
Ela já tinha feito de tudo: greve de fome, se trancar no quarto, fugir de casa…
— Mas agora… está diferente. Como se tivesse… profundidade.
Antes, era vazia. Sem reflexão, sem senso. Um animal guiado por instinto.
Irrecuperável.
Foi o rótulo que Raul lhe deu há tempos.
— Já tem 22 anos, afinal.
— …É. Vinte e dois.
Raul não conseguia tirar da cabeça o momento em que ela mencionou o próprio aniversário.
Olhos vazios. Rosto seco. Voz sem vida.
Como uma criminosa confessando seu pior pecado.