Capítulo 07
Outras Constelações também ficaram satisfeitas com minha atitude de agora há pouco, e novas doações vieram em sequência.
O visconde é o tipo que, quando acha que alguém é mais forte que ele, não ousa fazer nada de ruim.
Se eu demonstrasse fraqueza, ele com certeza concluiria que Therese estava vulnerável e chegaria ao ponto de contratar um assassino.
Depois disso, o jantar seguiu em paz.
Foi então que, talvez por estar observando a situação, a chefe das criadas, Miranda, se aproximou com um sorriso sutil e recolheu minha taça vazia.
— Não imaginei que a senhorita se lembrasse do nome de uma simples criada.
Hm? Ah, ela está falando da Penny?
Claro que me lembro. Penny não é uma figurante qualquer.
Afinal, para transformar a protagonista na perfeição que ela é, alguém com habilidade extraordinária precisa estar por trás.
Penny era uma personagem que eu tinha definido como mestre na arte de cuidar da aparência. Mesmo sendo uma criada, ela acabaria incumbida da função de embelezar Libby graças ao seu talento.
— Ah, é que ela trabalha muito bem. Por isso me lembrei dela.
Os olhos de Miranda brilharam de forma peculiar.
— Se é alguém que chamou a atenção da senhorita, então certamente é muito competente.
E a conversa parou por aí.
Miranda se retirou, e eu, depois de comer mais ou menos, fiquei ali sozinha enquanto a festa barulhenta continuava.
Bom, sozinha e em silêncio… nem tanto.
— Senhorita, a comida não está do seu agrado? Deseja que sirvamos outra coisa?
— Não. Estou satisfeita.
— Nesse caso, trarei a sobremesa.
— Como quiser.
— Senhorita, vou trocar os talheres.
— Pode fazer isso.
— Senhorita, deseja mais vinho? Temos o Black Cork de 73, o favorito do Mestre…
— O quê? Não, obrigada.
Franzi a testa, confusa.
Que estranho.
Desde que Miranda saiu, os criados parecem muito mais atenciosos comigo.
Eles não costumavam me evitar a todo custo?
E agora, justo quando deveriam estar fazendo de tudo para agradar a Libby, estão dando atenção para mim, a filha renegada?
Não que eu esteja em posição de criticar, mas… que péssima habilidade social.
Fiquei com pena de vê-los se esforçando por mim de forma tão desajeitada. Então pedi que parassem e fossem descansar.
Achei que ficariam aliviados, mas os criados se retiraram com expressões visivelmente decepcionadas.
Sério, o que está acontecendo?
Foi então que ouvi criadas cochichando por perto.
— Mas por que, de repente, todo mundo quer agradar a senhorita Therese? Parece até que ela tem mais empregados ao redor do que a própria senhorita Libby.
Boa pergunta. Eu também quero saber.
Continuei comendo o pudim da sobremesa, atenta à conversa.
— Você é nova, não é?
— Sim. Estou aqui há um ano.
— Então você ainda não sabe. Preste atenção. A senhorita Therese normalmente não lembra das pessoas. Se você for da criadagem, ela pode olhar na sua cara por dez anos e não saber seu nome.
Senti um leve constrangimento.
…Será que exagerei na burrice da Therese quando a escrevi?
Enquanto eu começava a questionar minhas próprias escolhas criativas, a criada continuou:
— Mas de vez em quando, ela lembra de alguém. E entre esses poucos, estão o mordomo Donovan e a chefe Miranda.
— Mas é porque eles têm cargos altos…
— Eles foram promovidos justamente porque chamaram a atenção da senhorita.
— Ah!
Esse era o ponto.
Ser lembrado por Therese era sinônimo de ascensão garantida.
De fato, os poucos subordinados que Therese lembrava pelo nome tinham atributos excepcionais.
Para alguém tão acostumada ao que há de melhor como Therese, aquilo que se destacava em seus olhos podia muito bem ser o melhor do Império.
— Isso é o que chamam de faro natural.
Ai… não devia ter escutado isso. Que vergonha.
Finjo que não ouvi e volto minha atenção para a sobremesa.
Mas as Constelações pareciam se divertir com meu desconforto, pois as doações continuaram com seus tradicionais “Ding! Ding!”
Ding!
[A Constelação ‘Teórico da Conspiração’ patrocinou com 100 moedas.]
[Uau, que jogada! Você calculou tudo até tomar o controle da situação?]
— É claro que não…
Levo o copo de água à boca para molhar a garganta e, nesse momento, meu olhar cruza com o de Libby.
Ela pareceu surpresa, como se não esperasse esse contato direto.
— …
— …
Enquanto o clima à mesa era de alegria e os Duques riam com as faces coradas de vinho, nós duas ficamos em silêncio, trocando olhares.
Era estranho encarar a protagonista do jogo que eu mesma criei.
Dizem que obras são como filhos para seus autores, mas esse tipo de sentimentalismo nunca fez parte de mim.
Era só uma criação.
Mas, ainda assim…
— É linda.
Libby estava realmente adorável. Exatamente como eu imaginei.
Apenas duas taças de champanhe e já estou ficando emotiva?
Que vergonha. Isso não é nada a minha cara.
Soltei um risinho e me virei para o outro lado, onde um grupo de pessoas insistia em puxar assunto com Therese.
Ignorando completamente o olhar verde persistente e teimoso que permanecia sobre mim.
O banquete durou apenas um dia.
A grande celebração do retorno da segunda filha do Duque existia apenas para consolidar a posição de Libby.
Depois disso, os Duques quiseram passar mais tempo em família.
Eles percorreram a mansão com Libby, reafirmando que ali era o verdadeiro lar dela.
Giuseppe, todos os dias, corria pela casa para encontrar a irmã mais velha.
Se Therese não causasse problemas, os dias seriam perfeitos.
Por isso, decidi me enterrar na biblioteca com a desculpa de estar estudando antes do semestre começar.
A biblioteca era em um anexo isolado da mansão.
Bastava seguir um caminho pelos jardins até um prédio antigo, com hera subindo pelas paredes brancas.
Lá dentro, era um mundo à parte.
Mesmo em uma era onde a imprensão não era desenvolvida, os livros mágicos enchiam as prateleiras, dignos da família de um Duque.
Flap — Flap —
— Isso continua me impressionando toda vez que vejo.
Ding!
[A Constelação ‘Explicador Nato’ patrocinou com 100 moedas.]
[Você já disse que ficou impressionada com isso umas 100 vezes.]
— Acho que não foram tantas assim.
[As Constelações balançam a cabeça em negação.]
Ou seja, discordam.
Passei a mão pela capa do livro, envergonhada.
Mas fazer o quê? Ainda acho incrível.
— Em Deleite dos Deuses, eu não criei uma estrutura tão lógica para a magia. Isso aqui é um conceito totalmente novo, que nem existe na Terra.
Parecia um mundo real. Isso me deixava com uma sensação estranha.
Ding!
[A Constelação ‘Explicador Nato’ patrocinou com 100 moedas.]
[É claro. Aqui é um mundo real.]
Pois é, e isso é o que me impressiona.
Se há 100 canais no ranking, será que existem pelo menos 100 planetas como este?
O sistema de canais e Constelações também era fascinante.
— Cada obra criativa transmitida como canal usa um planeta já existente? Ou um novo astro é criado? E as memórias dos personagens são ajustadas automaticamente para manter a coerência?
Também me intrigava o quanto de autoridade os gerentes de canal tinham para tornar isso possível.
Ding!
[A Constelação ‘Formado em Humanas’ patrocinou com 100 moedas.]
[Que papo é esse, nerd?]
Enquanto sussurrava “que incrível, que incrível”, continuava folheando os livros de magia.
Ding!
[A Constelação ‘Palpiteiro Profissional’ patrocinou 100 moedas.]
[Pelo amor, arruma esses livros.]
A mesa estava tomada por dezenas de volumes espalhados por todos os lados.
— Mas eles estão todos em cima da mesa, não no chão…
Isso não é bagunça, vai.
Ding!
[A Constelação ‘MBTI é ciência’ patrocinou com 100 moedas.]
[P]
- Nota A Constelação está fazendo referência à letra “P” do MBTI (Perceiving), indicando que a protagonista age de maneira mais espontânea, sem seguir planos rígidos — o que fica evidente na bagunça da mesa.
— …
Minha rotina recente era assim, acordava, fazia uma refeição leve e corria para a biblioteca. Passava o dia todo lá, saía apenas para comer, e levava livros até para a cama, onde lia à luz de um lampião antes de dormir.
E sobre a expectativa de que magia fosse parecida com matemática?
Nada disso. Era uma disciplina totalmente diferente.
Algo que eu jamais tinha visto antes. Misteriosa. Fascinante.
É divertido.
Para mim, estudar sempre foi um meio de ser reconhecida pelo meu padrasto.
Por isso, mergulhar tão genuinamente em uma área de conhecimento, com puro interesse, era algo inédito — tirando o que envolvia jogos, claro.
Com o tempo, fui formando uma base sólida sobre teoria mágica. Comecei a entender os textos, e o tempo para completar a leitura caiu drasticamente.
Foi um avanço gratificante.
[Algumas Constelações bocejam.]
Mas aparentemente, não para elas.
Toc, toc.
Justo quando eu pensava em encerrar os estudos do dia, um criado apareceu.
— Senhorita, o almoço está servido. Vamos para a sala de jantar no primeiro andar?
Ultimamente, por ficar sempre na biblioteca, acabava perdendo os horários das refeições e comia sozinha. Mas ontem à noite, Raul sugeriu que almoçássemos todos juntos.
Quer dizer, “sugeriu” era modo de dizer. Era uma ordem disfarçada.
Achei curioso ele ter dito isso justo hoje.
Será que ele se lembra?
Hoje é 20 de fevereiro — aniversário da Therese.
Achei improvável, mas a coincidência me deixou esperançosa.
Vai ver mudei o roteiro o suficiente para algumas coisas serem diferentes.
Se Raul lembrasse do aniversário da Therese, pedir mesada seria muito mais fácil.
Clack.
Mas no instante em que entrei na sala de jantar, percebi imediatamente que não era por isso.
Todos estavam radiantes.
— Aconteceu algo bom, pelo visto.
Perguntei a Raul enquanto me sentava.
Ele me olhou com um sorriso gentil — o tipo de expressão que nunca tinha me dirigido antes.
— Hoje saiu o resultado do teste de paternidade.
Com certeza dizia que era filha dele.
— Meus parabé—
— Mas Libby, você vai mesmo para Valhalla no próximo semestre? Não pode deixar para o ano que vem?
Fechei a boca.
Tentei dar os parabéns, mas Giuseppe se intrometeu e mudou de assunto antes que eu concluísse.
[A Constelação ‘Maníaco por Dramas’ não consegue esconder a decepção.]
[A Constelação ‘Resposta Satisfatória’ se retira por tédio.]
[A Constelação ‘Passe Romântico’ pergunta quando o mocinho vai aparecer.]
As notificações vieram em cascata, como se as reclamações tivessem sido reprimidas até agora.
De repente, percebi.
Uma família feliz — sem mim. O desprezo óbvio. Um aniversário ignorado.
Aquele tipo de situação que todo mundo odeia.
É. Entramos na fase “angústia” da história.