Capítulo 06
Abri a boca com um olhar sério.
— Ele odeia a Therese com todas as forças.
Minha expressão deixava claro: “Pelo amor, não fala besteira.”
[Algumas Constelações sorriem enigmaticamente.]
Esses sorrisos enigmáticos que se danem.
Fui eu quem criou esse jogo, suas Constelações.
Toc, toc.
Nessa hora, um criado bateu à porta.
— Senhorita, o brunch está pronto. Devo servi-lo aqui?
— Pode trazer.
[A Constelação ‘Procurando um Streamer de Mukbang’ enxuga a baba e prepara moedas.]
Nem tinha tirado a tampa dos pratos ainda. Vai babar por quê, criatura?
Balancei a cabeça e levantei a tampa da bandeja.
Daqui a pouco vai ter cena de reencontro de fazer chorar. Melhor me alimentar antes.
Raul chegou com Libby à mansão quando o sol já se punha.
— O Mestre chegou!
Ao ouvir a notícia, Rosanne correu para a entrada segurando a saia, sem se importar com a etiqueta.
Ninguém achou isso deselegante. Todos compreendiam o desespero de uma mãe que achava ter perdido a filha.
Os membros da casa do Duque se apressaram para acompanhar Rosanne até a entrada.
— Fez um trabalho maravilhoso, Senhorita Squire.
Quem falou comigo, afastada de Rosanne e Giuseppe, foi o Visconde Kevin Williams, irmão de Rosanne.
— Sim, bem…
Respondi sem entusiasmo e virei o rosto para frente.
— Mas sua expressão parece preocupada. Algum problema?
Filha de uma das cinco casas ducais do Império, Therese era uma figura ilustre demais para ser questionada por um visconde qualquer.
Ele deve achar que Raul vai me abandonar.
Se jogou o jogo direito, é isso mesmo que acontece com a Therese.
Assenti, fingindo concordar com sua preocupação.
— Sim. Estava pensando em como há gente demais de fora se metendo nos assuntos da família. Estava pensando em sugerir ao meu pai que, a partir do mês que vem, apenas pessoas de linhagem nobre e conduta exemplar entrem em casa.
— …
Williams só estava ali por cortesia de Raul. E eu tinha acabado de apontar isso.
Ele entendeu o recado e se afastou, emburrado, para o meio dos parentes.
Ding!
[A Constelação ‘Resposta Satisfatória’ patrocinou com 100 moedas.]
[Ahhh… refrescante como refrigerante bem gelado.]
Mas eu não falei nada de errado.
Assim que Raul avisou que poderia ter encontrado Libby, uma enxurrada de parentes e nobres colaterais veio correndo até a mansão.
Todos querendo participar do momento histórico de reencontro.
Tudo fingimento. Estão aqui pra puxar saco do Raul.
Definitivamente, tinha que dar um jeito de cortar os sanguessugas da casa do Duque.
Se não, os fundos iam parar direto nas mãos dos vilões.
Logo, a carruagem parou diante da entrada.
Clack.
Quem saiu primeiro foi Raul. Ele estendeu a mão em direção ao interior do veículo, de onde surgiu uma mão pálida e delicada.
Mesmo com o passado no subúrbio, não dava pra ter colocado rachaduras nessa mão.
Ver isso ao vivo é meio estranho, confesso.
Logo depois, a dona daquela mão desceu, coberta com o sobretudo de Raul.
Libby.
— Meu Deus…
Todos ao redor prenderam o ar.
Com cabelos dourados até o peito e olhos verde-claros como folhas novas, Libby era adorável.
[A Constelação ‘Inspetor de Rostos’ balança a cabeça, satisfeito.]
Ué. Esse aí tinha aplaudido a beleza da Therese antes…
Therese e Libby têm vibes diferentes mesmo.
Therese era fria e imponente.
Libby era gentil e acolhedora.
Beldade gélida versus beleza calorosa. Questão de gosto.
— Igualzinha à Senhora quando jovem. Idêntica!
Uma criada mais velha que servia Rosanne desatou a chorar com o rosto enterrado no lenço.
Libby, ainda tremendo diante da cena inusitada, corou levemente e falou com timidez:
— Olá… a todos.
Rosanne, que não conseguiu se aproximar e chorava agarrada ao próprio peito, caiu de joelhos.
— Senhora! A senhora está bem?!
— Senhora Rosanne!
Todos correram até ela. Mas quem chegou primeiro foi Libby.
— …Mamãe.
— Libby…! Ah, minha filha! Finalmente… Obrigada, meu Deus! Obrigada…
Todos se comoveram com a cena e derramaram lágrimas.
Todos, menos eu.
Cheguei a pensar que, ao ver tudo isso de perto, eu poderia acabar chorando e saindo da personagem.
Mas não. Nada disso aconteceu.
Na verdade, foi bem anticlimático.
Murmurei baixinho:
— Podia ter escrito essa introdução com mais esmero. Ficou melodramático demais.
Lembrei das críticas azedas do Oz e fiquei de mau humor.
Ding!
[A Constelação ‘MBTI é ciência’ patrocinou com 100 moedas.]
[Comprovadamente uma T[1].]
— …
Ateus, crentes e agora Constelações. Todo mundo acreditando em pseudociência.
- “T” refere-se ao traço “Pensamento” (Thinking) do indicador MBTI. Pessoas com esse traço tendem a priorizar lógica e objetividade sobre sentimentos nas tomadas de decisão.↩︎