Capítulo 04
Estalei a língua e perguntei a Rosanne o que ela estava fazendo.
— O que a traz aqui?
— …Passei para ver o que você estava fazendo.
Ela devia ter ouvido dizer que eu havia encontrado Libby.
Por isso, provavelmente veio até Therese com aquela expressão firme.
Além disso, como eu estava trocando de quarto, ela não conseguiria obter nada sem confirmar diretamente comigo.
Falei com leveza.
— Me sinto pressionada a usar este quarto. É o melhor da casa, não deveria ser a Libby a ocupá-lo?
— …
Rosanne mantinha uma postura solene, com as mãos cruzadas graciosamente como uma duquesa, mas, ao ouvir minhas palavras, começou a arranhar a própria pele com as unhas, revelando sua agitação.
Se as unhas fossem um pouco mais afiadas, com certeza teriam deixado marcas.
Libby era, de fato, uma pedra cravada fundo no coração de Rosanne.
— Mesmo que a Libby volte… é você quem deveria usar este quarto. É a filha mais velha dos Squire.
Os cantos dos lábios de Rosanne tremiam levemente ao dizer isso.
O olhar que me lançou estava repleto de desconfiança, e seus belos olhos verde-claros estavam sombrios.
Era triste, mas eu não sentia pena especial.
Afinal, não era minha família. E essas pessoas ainda haviam ameaçado Therese.
Com o retorno de Libby, surgiriam mais candidatas à sucessão do ducado.
Therese, que não possuía nenhum destaque além de ser a filha mais velha, seria rapidamente excluída da lista de sucessoras.
Mas, por conta da opinião pública, não poderiam simplesmente rebaixá-la. Então criariam, de alguma forma, uma falha decisiva.
No enredo original, Therese foi excomungada da família e teve um final miserável.
Mesmo que não tenha mais vínculos com a família, Rosanne não vai ficar parada se enxergar Therese como uma ameaça à sua filha.
Trabalhei bastante na construção da personagem da duquesa.
Uma mãe que parece gentil e bondosa, mas que não hesita em sujar as mãos de sangue pelos filhos.
Mesmo que isso signifique matar a própria enteada.
Isso queria dizer que, mesmo sobrevivendo na casa dos Squire, eu ainda poderia morrer silenciosamente pelas mãos da duquesa.
Definitivamente havia uma rota assim.
Então eu precisava sair daquele lugar em segurança.
E… para ser honesta, não fazia questão de agradar alguém que nem sequer era mais minha família.
Seria muito mais feliz se essas pessoas simplesmente sumissem.
Abri a boca, com calma.
— Madrasta.
Rosanne arregalou os olhos, surpresa, como se tivesse sido pega de surpresa.
Therese nunca a chamara de madrasta antes — sempre foi “duquesa”.
Mas não usei esse título por consciência ou como uma tentativa dramática de reconciliação.
— Não precisa fazer nada por mim. Não tenho o menor desejo de me aproximar da família. — Era só para traçar a linha com mais clareza. — Mas isso não quer dizer que vamos travar uma guerra desnecessária.
Significava que devíamos manter uma relação estritamente formal, como duas pessoas ligadas apenas por um laço de sangue forçado.
Ver Therese, que sempre foi violenta, arrogante e exigente, assumir uma atitude tão fria pareceu estranho, e Rosanne não conseguiu esconder sua inquietação.
Ela me olhou com ainda mais desconfiança.
Afinal, até agora, Therese havia sido a mais cruel com ela.
“Quem é você pra fingir ser minha mãe?” — ela vivia alimentando a discórdia na família por não aceitar que alguém ousasse se apresentar como duquesa.
Não dava para agir como se tudo aquilo nunca tivesse acontecido.
Para convencê-la, era preciso uma ideia mais típica de Therese.
— A senhora venceu.
— …Como é?
— Eu perdi. Usei o quarto da sucessora, mas não virei a sucessora, certo? E se a Libby voltar?
Na verdade, Libby acabaria se tornando a sucessora do duque com facilidade.
Era uma parte necessária da progressão da história.
Satisfeita agora?
De nada.
Quem ficaria feliz ao possuir um personagem que, de repente, é empurrado para a posição de herdeiro e obrigado a cuidar de toda a fortuna do ducado?
Era muito melhor ser filha de um chaebol: muito dinheiro, nenhuma responsabilidade.
Dei de ombros, levemente.
— Estou pensando em ir embora. Então, que diferença faz se eu passo o quarto da sucessora ou não?
— Vai sair de casa?
Rosanne parecia completamente incrédula.
E fazia sentido. Therese era o tipo de pessoa que preferiria morrer a viver em um dormitório.
Embora o dormitório fosse muito bem projetado, aos olhos de uma aristocrata nata como Therese, parecia mais a vila de um plebeu.
Comparar o dormitório com a residência dos Squire era absurdo.
Eram dois mundos totalmente distintos.
— Sim. Vou solicitar um quarto no dormitório de Valhalla. Não pretendo voltar para casa até me formar.
Valhalla era o nome da escola de magia que Therese frequentava.
Deleite dos Deuses seguia os clichês clássicos de histórias escolares.
Uma academia de magia em um cenário de fantasia.
A capital parecia uma coleção de belos edifícios europeus.
Pombos brancos brincando no céu.
Um relógio na praça.
E uniformes escolares.
A escola de magia frequentada pela heroína funcionava como uma universidade, mas não abriram mão dos uniformes.
Por mais que pareça, isso é claramente uma história de academia.
E com os candidatos a protagonista masculino.
Aventura vinha como toque final.
ComoOswald disse, era um clichê clássico — mas um sucesso garantido.
Desde que eu fosse a protagonista.
Therese era uma veterana no quarto ano da escola.
Libby, que ingressaria como caloura, só ficaria na escola por um ano — mas isso não era exatamente reconfortante.
O jogo cobria apenas aquele único ano.
Dois dos candidatos a protagonista masculino também estavam no quarto ano, então era inevitável manter essa configuração.
Havia uma opinião bem forte entre os desenvolvedores de que o presidente e o vice do conselho estudantil não podiam ser descartados como candidatos.
Claro, é uma história de academia. Não dá pra abrir mão do presidente do grêmio estudantil.
Fiz contato visual com os empregados que observavam a cena de longe.
— O que estão fazendo? Não vão terminar o quarto antes da Libby chegar?
— M-movam os móveis pra cá! Empurrem o tapete!
Só então os empregados fingiram se concentrar no trabalho novamente, todos evitando meus olhos.
Virei-me para Rosanne.
— Madrasta, por favor, supervisione eles. Eu vou para o quarto.
— …Sim, vá em frente.
Inclinei-me com uma reverência apropriada, depois saí do cômodo como se não tivesse a menor saudade.
— Ah… estou com fome…
Era inevitável, afinal, eu não comera nada desde que acordei.
Ding!
[Constelação ‘Em Busca de um Streamer de Mukbang’ patrocinou 100 moedas.]
[Por favor, come alguma coisa TT te dou 500 moedas.]
De qualquer forma, eu precisava comer… então por que não?
Chamei um empregado que passava por perto.
— Ei, você. Espera um pouco.
O empregado correu até mim com uma expressão assustada.
— Sim, diga, senhorita.
— Traga algo para comer no meu quarto.
— Entendido!
Ele se afastou apressado, aliviado por ser algo trivial.
— Bom… é isso que significa ser uma vilã?
Mesmo sendo tratada como piada, era a primeira vez que alguém me temia.
Não é respeito pela minha nobreza, é medo de uma bomba-relógio prestes a explodir.
— Nada mal.
De todo modo, gostei da ideia de não ser uma personagem facilmente ignorada.
[A Constelação ‘Caótico e Maligno’ concorda entusiasmadamente.]
[A Constelação ‘Ordeiro e Bom’ franze o cenho.]
Inclinei a cabeça.
— Esse canal acabou de abrir ontem, mas já tem muita gente assistindo?
Ding!
[A Constelação ‘Explicador Nato’ patrocinou com 100 moedas.]
[Sim, é porque é o canal doOswald. Ele é um dos super renomados entre os administradores de canal]
— Aquele desgra… digo, aquele Administrador é famoso?
Impossível.
[Algumas constelações gostaram de você chamar o Administrador de desgraçado.]
[A Constelação ‘Expulsa o Administrador Bonitão’ debocha perguntando se o rostinho bonito doOswald perdeu o efeito de marketing.]
Essas constelações não deviam ser tipo deuses…?
Mesmo seres assim pareciam ter inveja da aparência dos outros.
Bem, só pelos apelidos que já apareceram até agora, está claro que não são nada normais.
Na verdade, parecem mais espectadores da Terra do que seres transcendentes.
Chamei ele de desgraçado sem querer, mas ainda bem que a resposta foi boa.
Enfim.
Voltei para meu quarto e fui conferir minha situação atual.
— Primeiro de tudo, isso aqui.
Já tinha verificado a data hoje, ao trocar de quarto.
15 de fevereiro.
Faltavam cerca de duas semanas para a cerimônia de entrada dos calouros, em 1º de março.
Até lá, eu conseguiria me virar sem problemas, e assim que entrasse no dormitório, meu envolvimento com os Squire estaria encerrado.
Só não tem como evitar o contato com a Libby.
Se a levasse até onde os protagonistas apareciam com frequência e deixasse que se virassem sozinhos, tudo seguiria bem.
As criadas abriram a porta quando cheguei ao final do corredor.
Ao entrar, vi uma porta ao centro, com uma antessala muito maior que meu antigo quarto individual.
Ao atravessar a porta central, um quarto ainda mais espaçoso aparecia.
A mansão de um aristocrata é verdadeiramente luxuosa.
Ordenei às criadas que me acompanhavam que ficassem do lado de fora.
Havia algo que eu precisava verificar sozinha.
Tump.
Sentei no sofá de maneira relaxada — do tipo que faria Raul me repreender se me visse.
— Dinheiro e poder são mesmo bons…
[A Constelação ‘Caótico e Maligno’ aprova com entusiasmo.]
[A Constelação ‘Ordeiro e Bom’ franze o cenho.]
Não sei ao certo qual tipo de canal oOswald administra, mas definitivamente não é alinhado ao lado da ordem.
Por que alguém assim viria a um canal onde a streamer é uma vilã?
Era uma dúvida pequena, mas esse não era o foco agora.
Estreitei os lábios.
— Janela de status.