Capítulo 10
A Princesa Amada dos Piratas
Tradutora: Manteiga
Revisor: Daniel
—10—
o navio pirata caelum atracou em uma rota secreta do porto, e todos começaram a desembarcar.
— ufa. essa viagem nos trouxe muitos ganhos.
— tudo graças à nossa princesa. nossa, foi assustador.
— é, você ficou choramingando, achando que as crianças iam morrer. argh, acabou com a sua reputação de pirata~
— c-cala a boca, seu idiota!
— ei! parem de conversar e ajudem com a carga!
enquanto os observava se movimentando depois de me soltarem do abraço da nancy, senti meu corpo ser levantado com delicadeza.
— ah, preciso cuidar da minha garotinha. quase esqueci dela porque é tão pequenininha.
— pai?
nereus riu de um jeito brincalhão enquanto me levantava e me carregava para fora do navio.
‘tenho a sensação de que estou sempre sendo erguida.’
especialmente quando nereus me via, parecia que fazia questão de me abraçar apertado. não estava acostumada a ser carregada assim, então apenas revirei os olhos de forma desconfortável.
nereus me deu alguns tapinhas com suas mãos ásperas e disse a isaac:
— ei, vai preparar os cavalos.
— capitão, você precisa manter um perfil discreto. um dos membros da família pharus entrou recentemente para a marinha nesta cidade, então pode haver parentes ou afiliados deles por aqui.
— ah, vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem.
‘pharus?’
não era ‘ele’, aquele almirante, um marinheiro nessa época? como pouco se sabia sobre o passado dele, apenas pisquei em silêncio.
— mesmo que o capitão não esteja preocupado, é melhor resolver as coisas com discrição para evitar qualquer confusão — acrescentou isaac, lançando um olhar para mim.
— lala está aqui também, afinal.
— ah, é mesmo.
‘então, não é sobre evitar problemas, e sim lidar com tudo de forma discreta.’
soltei um suspiro leve, e nereus apertou levemente minha bochecha antes de me puxar para mais perto.
— ah, por que esse suspiro de novo, lala? vamos para um lugar divertido, tá bom?
— um lugar divertido?
mal tínhamos desembarcado, para onde poderíamos estar indo agora? olhei para nereus com uma expressão confusa, e ele sorriu ao puxar as rédeas do cavalo que isaac havia trazido.
— claro, lala. é um lugar que você vai amar.
—
‘mas que coisa, viu.’
assim que pousamos, sem nem descansar, ele já estava levando sua filha frágil para algum lugar…
‘um pomar?’
era o pomar onde ele havia comprado o ‘sol branco’.
— é esse o lugar divertido?
— claro~ não é divertido?
— nem um pouco…
— o que foi que você disse, minha querida?
— ah, nada.
enquanto nereus amarrava as rédeas do cavalo na cerca, olhei ao redor com atenção. havia marcas no chão.
‘tem alguém aqui?’
olhei em volta, mas não havia nem sombra de uma carruagem.
— ufa, pronto. vamos entrar?
— pai, pai.
dessa vez, em vez de me pegar no colo, nereus segurou minha mão. puxei sua mão levemente.
— olha aqui, tem uma marca.
— hmm? parece marca de carruagem. não é surpresa, já que há muitos pomares por aqui.
— sério?
— claro. se eu não conseguisse notar algo assim, teria que abaixar minha bandeira pirata. além disso, mesmo que haja alguém perigoso, e daí? eu resolvo tudo.
‘não importa quem a gente encontre, acho que você é o mais perigoso de todos.’
ver nereus dizer tão naturalmente que eliminaria qualquer testemunha me fez perceber que, por mais preciosa que minha família fosse, um pirata ainda era um pirata.
— o papai não te passa segurança?
— aham, sim. pai, você é tão legal e incrível.
— sua pestinha, quanto mais eu escuto esse ‘lindo, lindo’, menos sincero parece! daqui a pouco, vai acabar acreditando que é mesmo tudo isso!
— então, eu não sou bonita?
— …bom, você é bonita!
nereus balançou a cabeça, e eu imitei seu movimento. meu cabelo, amarrado no alto, balançou e roçou contra meu rosto.
— talvez seja porque puxou a mim, mas você é incrivelmente linda. isso mesmo, só veja as coisas boas e bonitas. entendeu? e não olhe nem para homens que são como sardinhas.
— então, não devo olhar pra você, pai.
— o quê, sua…!
nereus levantou a voz, fingindo estar bravo, mas logo fechou a boca e balançou a cabeça.
— melhor eu parar de falar. como adulto, não posso ficar bravo com isso.
‘sou eu que tô sendo a mais madura aqui.’
como alguém mais sensata, decidi deixar passar. apontei para o pomar.
— vamos logo~ quero voltar para a hospedagem antes de anoitecer.
— não se preocupe com isso. procurei o pomar mais próximo do porto justamente para pegar as frutas mais frescas. eu não levaria uma fracote como você para muito longe.
— ah, isso é verdade. por mais idiota e cabeça-quente que você seja, não seria tão imprudente assim.
— ……..
— ……..
nereus me olhou com uma expressão levemente magoada antes de desviar o olhar. não entendia por que ele insistia em provocar brigas que nunca ganhava.
— sim, nossa garotinha é muito forte.
— …? não, eu sou fraca.
— nada disso, você é forte. só é jovem agora. mais tarde, provavelmente vai conseguir derrubar mais de dez piratas com um único soco!
isso é impossível. pensando na minha vida passada, estava claro que até mesmo derrubar alguém do meu tamanho já seria difícil.
em vez de imaginar um futuro impossível, me concentrei no presente e olhei ao redor do pomar. o lugar era denso, vasto e assustadoramente silencioso.
‘por que ele me trouxe até aqui?’
eu precisava visitar o pomar de laranjas para conseguir algumas ervas medicinais, mas não havia necessidade de vir junto.
— tá bem quieto. como vamos encontrar o dono do pomar?
— hã? o que você quer dizer com ‘encontrar’, lala? tampe os ouvidos.
nereus sorriu animado.
senti um incômodo estranho. que diabos? para de sorrir assim, seu pirata.
— anda logo.
— …………
no fim, cedi à insistência de nereus e tampei os ouvidos com força usando as duas mãos.
‘ele vai soltar algum palavrão ou algo assim?’
apesar de serem pessoas que não hesitavam em falar de forma grosseira na minha frente, eles pareciam evitar usar palavras extremamente pesadas perto de mim. claro, isso nem sempre dava certo…
bang!
— ………..?!
mesmo com os ouvidos cobertos, ouvi um tiro muito alto. arregalei os olhos e olhei para cima.
na outra mão de nereus, que não estava me segurando, havia uma arma prateada e brilhante apontada para algum lugar. fumaça subia lentamente do cano.
— p-pai…?
— heh.
nereus sorriu satisfeito e fez um gesto com o queixo, indicando para eu olhar naquela direção.
— olha ali, lala.
eu estava genuinamente com medo de olhar. ainda cobrindo os ouvidos, virei a cabeça hesitante para onde ele apontava.
não consegui ver muita coisa por causa das árvores, então apertei os olhos para tentar enxergar melhor o que ele tinha acertado.
— hmph. você é esperta, mas sua visão não é das melhores, minha filha.
bang! bang! bang!! bang!!
com mais alguns tiros, os galhos que bloqueavam minha visão caíram no chão sem resistência.
— agora consegue ver?
e, ao longe, embora pequeno, eu vi. a janela estilhaçada e a figura congelada de uma pessoa…
enquanto eu olhava em silêncio, nereus falou com um tom orgulhoso:
— e aí? seu pai não é incrível? agora essa pessoa vai vir correndo.
‘esse homem é maluco.’
normalmente, qualquer um sairia correndo. mas nereus estava segurando algo que poderia acabar com tudo em um único disparo, mesmo à distância.
nereus manteve a arma apontada para a casa, e a pessoa lá dentro hesitou por um momento antes de começar a se aproximar lentamente. a maioria já teria desmaiado, mas, de alguma forma, essa pessoa conseguiu não cair. ainda assim, seu rosto estava pálido como um fantasma, as roupas estavam estranhamente desalinhadas e ele tremia mais do que um filhote recém-nascido.
— o-o que… o que vocês querem…?
click.
o som do cão sendo engatilhado ecoou. nereus, indiferente ao cano ainda quente pelos tiros anteriores, pressionou casualmente a arma contra a cabeça do homem assim que ele chegou perto.
‘lá se vai a ideia de um pirata moderado.’
eu achava que o caelum era relativamente mais tranquilo comparado a outros piratas, mas vendo isso, comecei a reconsiderar. era claramente a ação de um criminoso, um pirata puro e simples intimidando um cidadão.
nereus não parecia pensar que isso poderia ser prejudicial para a saúde mental de uma criança. ou talvez achasse que fazia parte da minha educação precoce como membro da tripulação.
puxei o braço de nereus rapidamente.
— pai, pai. por que tá tão bravo? esse homem pode não saber de nada.
o problema com o ‘sol branco’ só se tornou evidente mais tarde. não havia garantia de que o dono do pomar sabia de tudo. nereus pareceu achar meu argumento razoável, pois fez uma pausa antes de perguntar:
— você sabia?
— o-o que quer dizer…?
— se bem me lembro, esse pomar costumava ter um cachorro… mas não vejo ele agora. o que aconteceu?
— ……….
um brilho sinistro surgiu nos olhos de nereus.
— o que aconteceu?
— f-foi um acidente…
— agora que penso bem, você costumava dar algumas laranjas para esse cachorro, não dava? aquelas tão machucadas que não podiam ser vendidas.
— ……..
— e esse cachorro já não estava aqui da última vez que fizemos negócio.
— e-eu sinto muito. sinto muito mesmo.
essa reação confirmou tudo. ele não estava se desculpando por medo ou ignorância; era evidente que estava se entregando.
‘então ele sabia.’
ele sabia que poderia ser perigoso, mas fingiu não saber e vendeu mesmo assim. na época, o ‘sol branco’ foi vendido a um preço extremamente alto.
vendo essa resposta, nereus suspirou levemente.
— ajoelhe-se e abaixe a cabeça agora, para que minha filha não tenha que olhar para a sua cara.
o homem, tremendo, acabou se ajoelhando e pressionando a testa contra o chão. nereus puxou uma caixa de madeira vazia, virou-a de cabeça para baixo, sentou-se e me colocou em seu colo.
casualmente, balançou a arma na mão e falou com o homem à nossa frente.
— hah… ‘sol branco’?
— …………
— achou que eu era um idiota? hein? você… não, isso não tá certo. de qualquer forma, é, fui um idiota por ter sido enganado por isso.
— e-eu sinto muito.
— cala a boca. eu não disse que você podia falar. a única pessoa aqui que tem o direito de falar antes de mim é minha filha.
não entendi por que nereus estava me tratando como se eu tivesse mais autoridade que ele, nem tinha algo a dizer, mesmo que tivesse esse direito.
‘o que eu poderia dizer nessa situação…?’
a atmosfera estava extremamente tensa. era até um pouco fofo que nereus estivesse evitando xingar por minha causa, mas a situação continuava intimidadora.
me peguei desejando que algum outro pirata, como gerard ou dexter, estivesse aqui. embora, considerando o comportamento deles, talvez estivessem tão assustados com nereus quanto o homem ajoelhado.
— mais importante, você sequer sente muito? esse idiota? sério?
— …………
— lala, só para você saber, quando eu disse ‘idiota’, foi num sentido um pouco rude de ‘pessoa’. não foi um xingamento. entendeu?
mesmo rosnando e ameaçando o homem à sua frente, nereus falava comigo com a maior delicadeza do mundo.
o que eu faço com esse guardião estranho…?
— s-sim. entendi.
assim que respondi, nereus soltou um suspiro de alívio.
‘ele é um completo idiota…’
não acredito que meu pai é assim tão tolo.
mas eu não podia ignorar completamente a situação. vender aquela fruta para os marinheiros de propósito significava que ele não se importava se quem comprasse morresse ou não no mar.
‘mas então, por que ele me trouxe aqui?’
ainda não conseguia entender qual era a necessidade de me trazer junto.
{Obs: o “Cão” q mencionaram na obra, se refere ao cano da arma 😌}
Continua..