Capítulo 06
A Princesa Amada dos Piratas
Tradutora: Manteiga
Revisor: Daniel
—06—
vários dias haviam se passado desde então.
‘fala sério.’
o motivo de eu conseguir manter a calma ao relembrar essa sucessão de eventos era minha confiança de que poderia tratar isso.
‘hah, eu até tenho os suprimentos perfeitos para um tratamento de emergência.’
mas, se eu continuasse presa aqui, não poderia fazer nada. se as coisas continuassem desse jeito, os infectados não receberiam nenhum tratamento até chegarmos ao continente ocidental. apesar de ser infame como pirata, eu não podia deixar minha família inocente morrer.
‘fique calma. pense, mare… não, polaris caelum. só ficar sentada aqui não vai mudar nada.’
como nereus estava ocupado tentando controlar a situação, outros membros da tripulação estavam trazendo minhas refeições nos últimos dias.
‘deve haver um jeito.’
nereus, apesar de parecer despreocupado, era surpreendentemente meticuloso, especialmente em crises como essa. enganá-lo não seria fácil.
mas ele era o capitão deste navio e, a menos que a situação melhorasse até chegarmos ao continente ocidental, ele não teria o luxo de continuar trazendo minhas refeições em meio a essa emergência.
‘se minha memória não estiver errada, a situação não vai melhorar sozinha. nesse caso…’
me aproximei da pequena janela ao lado da minha escrivaninha.
‘essa é a única saída.’
não tinha nada a perder.
não sabia se funcionaria, mas, quando alguém está se afogando, não tenta se debater? encarei a janela e, então, tirei minhas roupas.
“certo, vamos lá.”
—
“sniff.”
dexter, com os olhos inchados e o nariz escorrendo, pressionou o nariz com a mão.
‘não chore.’
ele murmurou para si mesmo, mas as lágrimas continuavam caindo.
‘o capitão disse que estava tudo bem, mas será que está mesmo?’
na noite anterior, dexter estava de vigia. como estavam se aproximando do continente ocidental, ele tentou se manter acordado bebendo todos os estimulantes e chás amargos que encontrou.
apesar de seus esforços, acabou acordando com o sol do meio-dia e uma grande comoção.
por mais que tentasse, ele havia adormecido, e o navio desviou do curso por causa de uma corrente estranha durante a noite.
“idiota…”
a situação do navio era crítica, mas nereus apenas convocou dexter para a cabine do capitão por cerca de uma hora e não aplicou nenhuma punição.
a tripulação presumiu que dexter havia sido punido durante esse tempo e, depois disso, ninguém comentou nada com ele.
dexter sabia que essa era a forma de nereus demonstrar gentileza com o jovem marinheiro. nereus entendia que a pessoa que mais se culpava e se desesperava com a situação era o próprio dexter.
‘e o gerard?’
a doença misteriosa havia alcançado gerard também. gerard era o único amigo da mesma idade de dexter no navio. saber que não apenas falhou em ajudar, mas também se tornou um peso, fazia dexter sentir ainda mais nojo de sua própria incompetência.
‘pelo menos preciso cuidar bem da lala.’
a tarefa que nereus havia dado a dexter era cuidar de polaris.
como polaris não apresentava sintomas há alguns dias, dexter foi designado para cuidar dela. se ele estragasse isso também, não só seria morto por nereus, mas por todos os outros.
ele disse, com as mãos trêmulas, segurando a bandeja.
“l-lala? você tá com fome? eu trouxe comida…”
“………..”
mas não houve resposta, apenas silêncio.
‘hã?’
segundo o que ouviu dos outros piratas, polaris vinha agindo como uma criança em início de puberdade, batendo na porta sempre que traziam comida.
dado o quão perigoso era lá fora, todos estavam preocupados sobre como mantê-la quieta no quarto.
‘tá tão silencioso?’
dexter olhou ao redor, nervoso, concluindo que ela ainda poderia estar dormindo, já que era de manhã cedo para uma criança.
‘se for isso, é melhor eu entrar bem devagar.’
dexter girou a chave com cuidado, fazendo o mínimo de barulho possível, e abriu a porta. disseram a ele que a cama ficava logo à direita ao entrar…
“………?!”
quando virou à direita, esperando ver a cama, não encontrou a criança. ao virar a cabeça, viu algo pendurado na janela escancarada.
“l-lala?!”
vendo a criança mole e presa na janela, como se tivesse falhado em escapar, o coração de dexter quase saiu pela boca. ele quase jogou a comida no chão e correu para a janela.
“l-lala! eu vou te salvar! só fica parada! você ainda não morreu, né?!”
não, não pode ser! dexter gritou baixinho enquanto agarrava polaris pendurada e percebia que algo estava errado.
“……….?”
leve e macio demais.
embora lala fosse naturalmente leve, aquilo não era o peso de uma pessoa.
‘isso parece…’
rangido—clique.
“…hã?”
quando dexter percebeu que algo estava errado, a porta do quarto já havia se fechado.
clique—.
e então, foi trancada.
uma voz infantil veio do outro lado.
“desculpa, dexter. eu te pago o triplo quando voltar.”
“pagar o quê?!”
ele havia sido completamente enganado por uma criança de seis anos. olhou alternadamente para o embrulho de pano em suas mãos e para a porta, gritando de frustração.
“lala?!”
—
‘consegui.’
enfiei panos no meu vestido, fiz um boneco falso com meias e sapatos sobressalentes e pendurei na janela.
graças a isso, agora eu estava com um vestido fino e descalça, mas o importante era que eu tinha escapado. só por precaução, segurei firmemente a chave que peguei e soltei um suspiro profundo.
‘dexter foi realmente um golpe de sorte.’
se fosse isaac ou gilbert, eles não teriam caído tão facilmente, e os outros membros da tripulação teriam arrombado a porta. mas dexter era um garoto magro e pequeno. então, minha porta estava segura, e eu também.
olhando de volta para a porta, confirmei que minha suposição estava correta. apesar de dexter bater nela, ela mal se movia.
“l-lala! abre a porta! por favor?! isso é sério!”
“sim, é sério pra você, dexter, mas eu tô bem! não se preocupa! eu vou dizer pra eles não te matarem!”
nereus não ia matá-lo de qualquer jeito! mesmo que ele não pudesse ver, fiz um joinha atrás da porta.
“mas e se você adoecer também?! todo mundo pegou essa doença!”
“eu tô bem. não vou ficar doente.”
‘além disso, nem todo mundo ficou doente.’
dexter estava praticamente chorando alto com as minhas palavras imprudentes. parecia achar que eu só estava falando besteira como uma criança teimosa.
‘bom, se eu estivesse no lugar dele, também não acreditaria.’
“snif, snif…”
“dexter, fica aí chorando. eu volto logo!”
mas eu não tinha tempo para explicar tudo. deixei dexter chorando atrás da porta e corri para o meu destino.
o navio pirata caelum já havia sido trocado uma vez enquanto eu crescia, então eu estava a bordo deste há mais de dez anos. como era praticamente minha casa, não tive dificuldade em encontrar o caminho.
‘a cozinha.’
a essa hora, não haveria ninguém lá. na tripulação dos piratas caelum, os horários das refeições eram ajustados conforme necessário, e eles comiam rápido sempre que surgia um problema.
‘como esperado, tá vazia.’
sorri satisfeita ao olhar ao redor da cozinha. estava mesmo vazia, mas alguém havia deixado um enorme caldeirão cozinhando em fogo baixo.
“ah, só deixa eu recuperar o fôlego…”
meu corpo sempre foi fraco, e ser jovem só piorava isso. eu precisava encontrar uma forma de ficar saudável rapidamente.
mas isso ficaria para depois. minha prioridade agora era meu objetivo.
ao lado da cozinha havia um grande depósito de suprimentos alimentares, e eu precisava entrar lá. esse depósito geralmente ficava trancado.
“como esperado, tá trancado…”
seria tão bom se bastasse olhar para o cadeado pra ele abrir… suspirei fundo e segui para outra porta dentro da cozinha.
‘eu realmente odeio isso.’
era o quarto onde gilbert, o cozinheiro e segundo imediato do navio, dormia. gilbert, que geralmente parecia indiferente a mim, era alguém que nem nereus incomodava quando estava dormindo.
“mesmo indiferente, ele sempre pareceu difícil.”
embora nunca tenha feito nada comigo, ele sempre me olhava com uma expressão impassível. toda vez, eu sentia que ele não gostava de mim.
além disso, eu deveria estar quieta e trancada no meu quarto. gilbert, mesmo não participando muito das atividades externas do navio, sabia que eu não deveria estar ali.
‘por favor, esteja dormindo profundamente. por favor, esteja dormindo profundamente. por favor…’
ele deve ter tido várias tarefas cansativas ultimamente, então devia estar dormindo. rezei com fervor e, quando abri a porta, meu coração quase saltou do peito.
“hah, hah.”
“………”
gilbert estava sentado, com os olhos revirados.
‘ele tá dormindo desse jeito?’
com a personalidade dele, ele teria dito alguma coisa se eu entrasse aqui, mas estava tudo em silêncio. revirei os olhos e olhei para a parede onde a chave do depósito estava pendurada.
‘só preciso pegar aquilo e sair rápido.’
como havia uma escrivaninha ao lado da parede com a chave, subi nela e facilmente alcancei a chave pendurada no alto.
‘consegui!’
com a chave na mão, tudo o que eu precisava fazer agora era pegar o item no depósito e passar na enfermaria para pegar os materiais restantes.
‘se alguém pega uma doença contagiosa, é colocado em quarentena num quarto abaixo do convés, então preciso me apressar. é ainda mais perigoso em um lugar sem ventilação.’
a importância da ventilação e da desinfecção não era bem reconhecida nessa época. mesmo que soubessem, as pessoas não davam muita atenção. além disso, como era uma doença infecciosa, mesmo que entendessem a necessidade de ventilação, era difícil colocá-los em áreas bem ventiladas.
num navio, você nunca sabia quando ou onde uma doença se espalharia, e se algo desse errado, todos poderiam morrer juntos.
tum, tum.
“……….!”
quando desci da escrivaninha e me preparava para sair, ouvi passos pesados e apressados vindo da cozinha.
‘esse som de pisadas bruscas… é o nereus!’
pelo barulho forte que ele fazia, provavelmente já tinha percebido que tranquei dexter e fugi. mesmo que não fosse isso, se eu encontrasse nereus aqui, seria capturada na hora.
vi os dedos de gilbert se mexerem com os passos barulhentos e me escondi atrás da escrivaninha.
bam!
“ei, gil—! ugh!”
como esperado, nereus entrou no quarto onde gilbert estava, e um som alto e seco ecoou ao mesmo tempo.
prendi a respiração e fiquei em silêncio.
“eu já falei pra não acordarem os outros quando estão dormindo…”
“ah, qual é! esse é o problema agora?!”
“eu não durmo há dias. isso não é um problema?”
normalmente, nereus teria percebido minha presença, mas estava irritado demais com gilbert para me notar.
‘graças a deus.’
“sério?! quer que eu te faça dormir pra sempre, então?!”
já fazia dez anos desde a última vez que vi os dois brigarem assim, mas ainda parecia familiar. mesmo agindo desse jeito, eles nunca puxavam armas ou espadas um contra o outro, então eu podia ignorar os barulhos de coisas se quebrando atrás da escrivaninha.
‘além disso, parece que nereus esqueceu o motivo de ter vindo aqui por causa da raiva.’
se a racionalidade dele estava tão paralisada, seria mais fácil me mover. peguei um pedaço de pau que estava ao meu lado e fui em direção à porta.
“espera, ei, ner.”
“o que! por quê!”
“aquilo, aquilo, aquilo.”
no momento em que estava prestes a fechar a porta, fiz contato visual com os dois.
“por que ela tá aqui?”
“oh, ei! lala!”
“desculpa, mas essa dívida… hã.”
antes que o assustado nereus e o recém-acordado e rabugento gilbert pudessem reagir, fechei rapidamente a porta e prendi o pedaço de pau entre a maçaneta e a fenda da trava.
“pra ser sincera, não é bem uma dívida. isso é tudo pelo caelum, confia em mim.”
“ah!!”
bam! bam! a porta sacudiu violentamente. esse pedaço de pau não ia aguentar por muito tempo, mas me daria tempo o suficiente.
‘certo, pegar o que preciso no depósito e depois ir pra enfermaria.’
vou fazer isso rápido.