20
A Princesa Amada dos Piratas
Tradutora: Manteiga
Revisor: Daniel
—20—
“lala~ minha princesa~ acorde!”
“oh…”
quando abri os olhos, vi um rosto áspero e familiar.
“pai, seu rosto está estranho.”
antes de desmaiar, eu estava sentada perto da janela, mas de alguma forma, agora estava deitada na cama. parecia que nereus tinha me movido depois que adormeci na brisa fresca da noite.
‘bem, este é o quarto do nereus, afinal.’
“minha princesa ainda está sonolenta. vamos limpar isso, tomar café da manhã e nos preparar para sair.”
sem pedir minha permissão, nereus me pegou e me girou no ar.
“pai, estou enjoada…”
“hahaha! e aí? parece que você está em um navio, né? é bom se acostumar, já que vamos zarpar de novo em breve~”
“que bobagem é essa?”
“oh, minha lala. tão afiada. vamos tomar café e depois comprar um bolo~”
“bolo.”
“olha só como seus olhos brilharam.”
mesmo que eu não tivesse reagido tanto à menção do bolo, nereus caiu na risada e rapidamente me vestiu com um vestido antes de me carregar debaixo do braço até a mesa de jantar.
“vamos comer um café da manhã leve~”
‘l-leve?’
sobre a mesa havia pão macio, torrado até ficar dourado e crocante, salada de batata amassada, ovos fritos no óleo, presunto grosso, salsichas, feijões cozidos coloridos, três tipos de queijo, frutas frescas bem lavadas e uma salada regada com um molho cítrico.
… empilhados como uma torre.
ao lado, havia uma panela meio vazia de sopa cremosa e jarras cheias de várias bebidas.
‘é isso que ele chama de leve?’
a quantidade era pesada, muito pesada.
“assim que zarparmos, não poderemos comer assim, então coma o máximo que puder~”
“ugh…”
nereus rapidamente serviu um prato e o colocou na minha frente.
era verdade que no navio não podíamos comer dessa forma. mesmo com os avanços mágicos permitindo armazenar ingredientes frescos por mais tempo, tínhamos que racionar durante a viagem, já que nunca sabíamos quando chegaríamos à próxima ilha.
“é muita comida…”
mas a quantidade que nereus me serviu era absurda. o pão era enorme e, por cima, havia um ovo frito com uma fatia de presunto incrivelmente grossa. uma concha inteira de feijões e todos os tipos de queijo no meu prato.
“coma sua salada também.”
“ugh.”
mastigando devagar, lembrei de como eu era exigente com comida quando criança, mas acabei mudando esse hábito durante meu tempo na marinha.
na marinha, passamos por um processo de consumo de pequenas quantidades de ‘prallet.’
‘prallet é um veneno paralisante perigoso, mas, se ingerido em pequenas quantidades, não mata e ajuda a acabar com a frescura na hora de comer, então diziam que era seguro.’
quando ingerido aos poucos, o prallet adormece as papilas gustativas. você pode comer qualquer coisa e isso impede que desenvolva desejos por comidas sofisticadas.
originalmente, treinávamos com venenos para nos preparar para situações em que poderíamos ser capturados e torturados, então consumir prallet não colocava nossa vida em risco.
em conclusão…
“não tem gosto de nada.”
“ah, não seja enjoada com comida. eu sei que você também não comia direito no navio.”
cada sabor parecia extremamente vívido. minha língua, especialmente sensível por ainda ser de uma criança, detectava cada gosto com precisão. a doçura e outros sabores eram aceitáveis, mas o amargo era especialmente difícil de suportar.
então, isso não era frescura; eu tinha um motivo válido. para os outros, no entanto, podia parecer que eu só estava sendo uma garotinha mimada.
quando empurrei o prato de salada com uma careta, nereus riu e enfiou um garfo cheio de verduras na minha boca.
“ah, você tem que comer bem. se terminar tudo, eu te compro um presente. fechado?”
esse pirata ardiloso continuava enfiando aqueles verdes amargos na minha boca e agora queria negociar comigo.
‘vou ceder.’
no fim, decidi que ceder seria mais fácil. como foi que acabei com alguém assim—parecendo um marginal de rua—como meu pai?
‘bem, ele é um pirata, afinal.’
quieta, continuei comendo a comida que nereus tinha preparado para mim, sentindo meu rosto se contorcer a cada mordida.
“o que você está fazendo?”
“estou amarrando o cabelo da minha filha~ não é o trabalho de um pai fazer isso?”
“oh, onde você ouviu isso?”
“hmm? estava em um livro chamado ‘100 maneiras de ser um ótimo pai que cria uma filha maravilhosa.’”
quase cuspi meu suco de laranja. nereus dizia isso com tanta seriedade enquanto puxava meu cabelo com tanta força que parecia que ia arrancá-lo. meu pobre cabelo estava sendo sacrificado sob suas mãos ásperas.
“só espera um pouco. papai vai amarrar tão bonito.”
“mm.”
sendo sincera, eu não esperava muito. até gilbert, que tinha as mãos mais habilidosas do navio, uma vez prendeu meu cabelo de um jeito tão bagunçado que acabei com um rabo de cavalo caído no topo da cabeça. demorou tanto para desfazer que eu simplesmente disse que ia ficar com ele assim.
com um pedaço de pão na boca, fiquei sentada enquanto nereus puxava meu cabelo desajeitadamente. por fim, ele sorriu satisfeito.
“pronto, terminei.”
para falar a verdade, meu cabelo estava um desastre.
as duas maria-chiquinhas estavam tortas, com fios saindo em ângulos estranhos ao redor dos elásticos.
por mais que eu olhasse, dava para ver que a tensão dos elásticos era diferente, assim como a altura dos penteados. estava mais para bagunça do que qualquer outra coisa.
quando nereus segurou um espelho para mim, virei a cabeça para olhar e soltei um pequeno suspiro.
“não tá tão ruim.”
“né?”
“com prática, melhora.”
“haha, que pirralha atrevida.”
mesmo que qualquer um pudesse ver que era um comentário insolente, nereus apenas riu. depois de dar alguns tapinhas na minha cabeça, disse que ia se preparar e seguiu para o quarto dele.
“e o ner?”
depois de terminar o café da manhã e me sentar sozinha no enorme sofá, gilbert se aproximou.
“pai disse que está se arrumando para sair.”
“aquele preguiçoso ainda tá atrasado, até hoje…”
pisquei ao ver gilbert dar de ombros antes de me pegar no colo.
“vamos juntos. não posso deixar só você e nereus irem sozinhos—eu ficaria preocupado.”
“quando o capitão não tá por perto, o imediato não deveria estar no comando?”
“quando o capitão e o imediato saem, tem dois outros que podem dar conta, então tá tudo bem.”
os dois a quem gilbert se referia eram isaac e ethan. isaac ajudava nereus com várias tarefas, e ethan, por ser mais velho e um homem de bom caráter, era respeitado por muitos.
“além disso, ainda tem coisas que eu não consegui comprar ontem por causa da confusão, então preciso ir.”
“mm.”
“tem muita coisa pra pensar quando se prepara pra uma viagem.”
‘isso é verdade.’
nunca se sabe o que pode acontecer, então era essencial estocar suprimentos suficientes. caso contrário, se algo desse errado, não teria como lidar com a situação.
‘não me lembro muito bem de quando era muito nova no navio.’
evitava pensar em caelum o máximo possível, então mal me lembrava de qualquer coisa. as lições que aprendi sobre caelum nos tempos da marinha pareciam mais reais do que minhas próprias memórias de infância.
‘mas pelo menos lembro dos detalhes da doença quando nancy desmaiou. aquilo foi por pouco.’
então, o que aconteceria agora?
‘não posso fazer nada para impedir a guerra na ilha odlo.’
claro, seria ótimo se eu pudesse impedir, mas piratas não eram heróis nem a marinha. por mais que minha família em caelum me amasse e cuidasse de mim, as chances de concordarem em ajudar a evitar a guerra na ilha odlo só porque eu pedi eram praticamente nulas.
“ei, seu idiota—!”
“hã?”
antes que eu percebesse, já estávamos do lado de fora da hospedaria. um homem bem arrumado vinha correndo em nossa direção, gritando furioso.
‘hã? o que é isso?’
olhando mais de perto, ele parecia familiar. mas o chefe da nossa família, nereus caelum, não costumava se vestir tão bem assim.
fiquei ali parada, de boca aberta, piscando feito uma tonta.
seus cabelos, geralmente bagunçados e desgrenhados, estavam presos de forma impecável, e sua barba áspera havia sido completamente raspada.
até mesmo seu tapa-olho tinha sido removido, revelando seus olhos pálidos e as cicatrizes de queimadura. apesar das marcas, sua aparência arrumada o fazia parecer menos um pirata rude e mais um cavaleiro com uma história para contar.
‘então ele podia ficar assim, mas simplesmente escolhia não ficar?’
se ele andasse pela rua desse jeito, aposto que ninguém o reconheceria, mesmo que houvesse cartazes de procurado com seu rosto por toda parte.
“tsk, é culpa sua que estamos atrasados.”
“o que eu fiz? você nem precisava vir junto, mas veio. hã? tá com ciúmes porque vou sair com a minha princesinha?”
“que besteira você tá falando?”
“ha, não tá negando—?”
nereus estendeu as mãos para gilbert, como se pedisse para que ele me entregasse, mas gilbert ignorou o gesto e seguiu andando.
‘mas espera, essa direção…’
eu não tinha certeza, mas parecia que não estávamos indo para um lugar que vendia bolos ou outras sobremesas. fiquei quieta, apenas observando a situação.
logo, me arrependi da minha decisão.
‘e-espera, esse lugar…’
o design exterior elegante e refinado, combinado com a aura extravagante que emanava da placa, me fez estremecer.
“oh~ lunatic? não é esse o lugar mais famoso daqui?”
“sim, perguntei enquanto fazia compras ontem. é definitivamente o melhor.”
“também deveríamos mandar fazer alguns casacos de inverno e comprar uns vestidos pra nossa menina… suspiro, ela tá crescendo tão rápido que devemos pegar roupas maiores também.”
“……”
“dessa vez, ela cresceu bastante, né?”
para ser sincera, não achei que tivesse crescido nem um centímetro nessa viagem, mas isso não era o mais importante.
‘l-lunatic, filial nº 5.’
reconheci imediatamente a placa que dizia lunatic—uma loja de roupas de luxo. eu conhecia essa loja.
lunatic havia começado no reino de centrum, que servia como o centro do continente ocidental. rapidamente expandiu seus negócios, abrindo filiais em diversos territórios. diziam que não apenas nobres, mas até mesmo alguns membros das prestigiosas 6ª famílias frequentavam a loja, o que dizia muito sobre seu status.
‘será que eles vão deixar a gente entrar?’
além disso, havia um boato de que, quanto mais próximo de 1 fosse o número da filial, mais arrogante era o atendimento. como essa era a filial nº 5, eu podia esperar um nível de arrogância ranqueado em 5º lugar.
no entanto, como tinha ouvido esse boato quando estava nos meus vinte e poucos anos, alimentava uma pequena esperança de que as coisas pudessem ter mudado.
“esse lugar parece caro.”
“polaris, você não precisa se preocupar com isso.”
“exatamente, é muito cedo pra uma criança se preocupar com esse tipo de coisa. volte depois de viver pelo menos mais 20 anos.”
‘basicamente, minha alma tem 26.’
um único vestido aqui custaria uma fortuna. eu tinha ouvido dizer que até mesmo a peça mais simples vinha com um preço absurdo. fiquei encarando a loja, atônita, mas gilbert apenas deu um tapinha na minha cabeça e murmurou: “tá um pouco frio hoje?”
não tá frio, seu tonto.
“certo, vamos entrar~”
quando nereus sorriu e tentou abrir a porta, o vidro, polido até reluzir, se abriu antes que sua mão pudesse tocá-lo.
uma voz refinada e suave nos recebeu.
“bem-vindos. esta é a lunatic.”
“bem-vindo, estimado cliente. posso ajudá-lo com seu cartão de associação?”
“…….….”
um dos motivos pelos quais essa loja de vestidos se tornou famosa foi seu sistema de associação. não membros precisavam fazer reserva com antecedência e só podiam visitar na data e horário designados, enquanto membros podiam entrar a qualquer momento, sem necessidade de agendamento.
conseguir um cartão de associação também exigia atender a certos critérios estabelecidos pela loja, o que, ironicamente, fazia com que os clientes que vestiam roupas da lunatic se sentissem ainda mais orgulhosos.
havia até boatos de que membros recebiam um tratamento melhor do que não membros. em minha vida passada, ouvi histórias de jovens damas usando seus cartões de associação para menosprezar outras pessoas.
‘claro, isso foi numa época posterior à atual, então o sistema pode ter mudado um pouco até agora.’
não havia a menor chance de nereus ter um cartão de associação.
‘e eles provavelmente nem têm roupas que sirvam em mim.’
olhei ao redor, nervosa. era provável que nos expulsassem em menos de cinco minutos, e eu estava preocupada com a reação de nereus.
‘mas ele ainda é o capitão, então não faria uma cena, certo?’
ainda não tínhamos terminado de reabastecer os suprimentos ou consertar o navio. como precisaríamos ficar em terra por mais um tempo, eu tinha certeza de que nereus não causaria um tumulto por ser recusado.
e ele certamente sabia que havia uma base da marinha bem nesta cidade.
“cartão de associação? não tenho. gil, você tem um?”
“você acha que eu teria um? nenhum de nós tem. a clara também não.”
apesar do tom rude e desrespeitoso, o funcionário continuou sorrindo educadamente, embora eu pudesse ver rachaduras se formando em sua expressão.
“…me desculpem, estimados clientes. na lunatic, reservas são obrigatórias para não membros. a data mais próxima disponível é daqui a quatro dias…”
clink, clink—
o funcionário não conseguiu terminar a frase depois de ver o que nereus estava tirando do casaco. a cada movimento, moedas de ouro e joias caíam.
“com essa quantia de dinheiro, não podemos comprar algumas roupas hoje?”
“bem, é que… já temos clientes agendados para hoje…”
clink.
nereus deixou cair ainda mais moedas de ouro e prata.
‘como diabos ele carregou tudo isso?’
“responda.”
“…bom, veja bem…”
thud.
o som de uma barra de ouro sendo colocada sobre o balcão.
não pude evitar me perguntar como ele conseguiu carregar tanto dinheiro vestindo aquelas roupas.
“essa não é a resposta que eu quero ouvir…~”
o funcionário, agora pálido, gaguejou por um momento antes de acenar vigorosamente com a cabeça.
“e-eu entrarei em contato com o proprietário imediatamente.”
no fim, foi uma vitória da riqueza.
Continua…