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A Princesa Amada dos Piratas
Tradutora: Manteiga
Revisor: Daniel
—17—
“hic.”
ao ouvir as besteiras de nereus, hyperion ficou vermelho e soluçou.
tá vendo? quão imprevisível essa conversa deve ter sido para ele ficar tão desnorteado assim?
“pai.”
“sim?”
“eu realmente acho esse garoto muito fofo, mas não estou pensando em romance. é cedo demais pra mim.”
“hic, hic! hic!”
na verdade, é cedo uns cem anos. se você namora, tem que pensar em casamento. e se casar, vai ter que se estabelecer em terra firme, certo? isso eu nunca vou aceitar.
na minha vida anterior, fui forçada a me separar de caelum, mas dessa vez, ficarei aqui até que a jolly roger apodreça e desapareça.
“e ele só tem 8 anos. não sinto nada romântico por uma criança.”
“……….”
quem em sã consciência sentiria alguma emoção assim olhando para uma criança? isso é loucura.
“ei, lala. quantos anos você tem mesmo?”
“hã? ah…”
fiquei sem palavras com o comentário de nereus. é verdade, eu tenho 6 anos agora, né?
“eu gosto de pessoas mais velhas.”
“mas ele tem 8 anos.”
“sim.”
“então, já que você tem 6, isso faz dele mais velho, não faz?”
“………..”
nereus estava afiado hoje.
“ah, sei lá, sei lá. crianças de seis anos não entendem coisas tão complicadas!”
qual o sentido de ter conversas tão inúteis? de qualquer forma, eu não gosto do hyperion, e ele também não gosta de mim. e vai continuar assim.
‘hyperion não gostava de mim antes da regressão, então nada mudou.’
sentimentos românticos são um luxo para quem está na marinha. como podem ser um grande obstáculo para a justiça, até ensinam no treinamento que eles não devem formar relacionamentos amorosos.
ou seja, não há chance de hyperion gostar de mim no futuro quando voltar para a marinha.
pelo contrário, terei que usar todos os meios possíveis para garantir que ele não me odeie quando descobrir que sou uma pirata, então não tenho tempo para as besteiras de nereus.
peguei a mão de hyperion e fui em direção à mesa de jantar. diferente de antes, todos estavam sentados e comendo em silêncio, mas a comida ainda estava empilhada como uma montanha.
parecia que ninguém em caelum se sentia desconfortável com isso.
havia um assento vazio bem organizado, sem nem precisar procurar.
“vamos sentar aqui.”
examinei cuidadosamente os tipos de comida nos pratos e selecionei alguns para colocar na frente de hyperion.
“……..!”
os olhos de hyperion se arregalaram, e suas bochechas se contraíram enquanto ele provava cada prato com atenção.
era natural. eu lembrava exatamente dos sabores que hyperion gostava. como ele raramente mostrava preferências fortes, não era difícil lembrar das poucas coisas que ele realmente apreciava.
“gostoso, né? a comida do pai gilbert é a melhor do mundo, até fora do nosso navio.”
“claro, claro. depois que você prova a comida do gil, fica viciado. eu até achei que ele colocava alguma coisa ilegal nela. é por isso que nossa tripulação fica longe de drogas.”
“mais precisamente, não disseram que iam jogar a gente no mar se encostássemos nessas coisas?”
“exatamente!”
“calem a boca, seus pirralhos! se forem morrer, que seja afogados em bebida, mas nem pensem em tocar em drogas!”
nereus, fazendo uma piada sem graça de pirata, arrastou uma cadeira e sentou-se entre mim e
hyperion.
“come alguma coisa também, ou vão achar que estou te deixando passar fome. você está tão magra.”
mesmo com dois homens fortes atacando a comida, a pilha na minha frente ainda era enorme.
“pai, eu não consigo comer tudo isso.”
“hã? do que você está falando? quando eu tinha a sua idade, se eu pudesse comer assim nem que fosse uma vez, não teria arrependimentos.”
“você realmente acha que eu e você somos a mesma pessoa?”
sem nem esconder a irritação, retruquei, fazendo nereus fazer um biquinho antes de começar a roubar comida do meu prato.
“minha princesinha é tão exigente…”
“pai, você está sendo relaxado demais!”
enquanto eu empurrava nereus, que tentava me enfiar uma omelete goela abaixo, senti um olhar assassino vindo de longe.
gilbert encarava nereus com fúria através da porta da cozinha entreaberta.
‘uau, ele parece que pode matar alguém só com os olhos.’
“o que você tá olhando assim, ai ai.”
percebendo que meu olhar estava focado atrás dele, nereus se virou e suspirou. era um espetáculo e tanto ver o capitão pirata sendo intimidado pelo imediato.
“lala, papai vai ali na cozinha rapidinho.”
dito isso, nereus seguiu para a cozinha e, logo depois, ouvi um barulho alto, como se alguém tivesse sido atingido por uma panela de metal.
“ai.”
“ai mesmo.”
“dessa vez, a culpa é do capitão. o imediato tem todo o direito de estar bravo.”
“pois é.”
“mas, sendo sincera, o capitão tá sempre errado. o imediato se irrita não importa o que ele faça.”
apesar do barulho, todos continuaram agindo normalmente, menos hyperion, que parecia perdido e assustado.
“rion, o que foi?”
“uh, aquela pessoa não acabou de levar uma pancada?”
“sim, mas isso acontece o tempo todo. meu pai leva bronca do imediato gilbert quase todo dia.”
“b-bronca?”
“sim… ele vive sendo repreendido assim.”
“isso não é só uma bronca, parece bem mais intenso…”
por que ele está tão surpreso? se ele viveu na marinha, já deve ter visto coisas muito piores. de qualquer forma, ninguém no nosso navio considera as broncas do gilbert em nereus algo fora do comum.
à primeira vista, pode parecer um motim vindo do imediato, mas todos a bordo sabem que gilbert não tem essa intenção.
no fim das contas, é algo que acontece por afeto e confiança.
“papai é forte e saudável, então não se preocupe. ele não vai morrer por causa disso.”
“sério?”
“mas se você vir algo assim acontecendo em outro lugar, provavelmente não será pelo mesmo motivo, então não encare da mesma forma.”
“…ah, entendi.”
eu disse só por precaução, mas minha suspeita estava certa.
ele cresceu em um lar onde era constantemente maltratado, então, vendo como gilbert tratava nereus, talvez confundisse todo o abuso que sofreu com afeto.
suspiro.
soltei um suspiro.
imagina ser tão jovem e já ter que cuidar de crianças e adultos. ainda assim, é melhor do que quando eu não tinha família. entreguei um copo de suco de cranberry para hyperion e fui até a cozinha.
“pai.”
gilbert segurava uma panela grande de macarrão com uma mão enquanto agarrava nereus pela gola da camisa com a outra.
“………”
“oh, lala está aqui?”
“polaris, isso não é algo bom para você ver. volte e termine sua refeição.”
“imediato, poderia soltar meu pai, por favor?”
achando melhor ser educada com gilbert, fiz questão de pedir com cortesia, embora o rosto dele continuasse carrancudo. enquanto isso, nereus, ainda pendurado pela gola, exibia um sorriso travesso.
‘nossa, ele é muito irritante.’
bam! gilbert deu uma pancada na cabeça de nereus com a panela.
“você não disse que isso não era algo bom para a criança ver?”
“…é o que chamam de educação precoce.”
foi surpreendente ouvir gilbert, que sempre me pareceu violento e cínico, falar assim. antes, eu pensava que ele era o completo oposto de nereus, mas agora, olhando bem, eles tinham muitas semelhanças.
‘talvez seja porque são amigos desde antes de se tornarem piratas?’
“agora é hora de comer, não de dar aula. por que está dando tanta bronca no meu pai a ponto de ele nem conseguir comer?”
gilbert não respondeu, apenas me encarou com um olhar frio. quando eu era mais nova, tanto nereus quanto gilbert me assustavam, embora eu nem lembrasse mais por que tinha medo de nereus. já com gilbert, era óbvio.
aquele olhar gelado era assustador e intimidador. ele era magro como galhos secos no inverno, mas era a pessoa mais violenta do nosso navio.
‘acho que, como eu era só uma criança que nereus pegou aleatoriamente, é compreensível que o imediato não gostasse de mim.’
sempre foi assim: nereus causava problemas, gilbert resolvia; nereus errava, gilbert se irritava―então era natural que ele não gostasse de mim, que antes da regressão não passava de um peso morto.
pelo menos, era isso que eu achava.
“por que você não me chama de ‘pai’?”
…pelo menos, era isso que eu achava até ouvir aquilo.
“hã?”
“pfft, hahahaha―!”
pra ser sincera, fiquei completamente atônita com a pergunta de gilbert. nereus, ainda pendurado pela gola, começou a rir alto.
“o imediato quer ser chamado de pai também?”
“sou o único que parece distante. isso é bem desagradável.”
mesmo mentalmente sendo adulta por causa da regressão, era difícil processar isso com calma. foi mais chocante do que perceber que isaac, no fundo, era um adulto brincalhão.
“g-gilbert… pai?”
“hmph.”
depois de ser chamado de pai, gilbert parou por um instante e, em seguida, jogou nereus no canto da cozinha.
crash! bang! diversos barulhos altos ecoaram pelo cômodo.
“aii…”
“não gosto do fato de que nereus é só ‘pai’ e eu sou ‘gilbert pai’, mas acho que dá pra aceitar.”
aos poucos, comecei a aceitar que toda a tripulação dos piratas caelum era composta por um bando de crianças grandes e tolas.
“então, gilbert pai, por que você está tão bravo?”
“ele pegou outra criança sem permissão, como faz quando encontra cachorros de rua.”
“mas se ele não fizesse isso, a criança poderia ter morrido…”
“ele deveria ter entregado a criança às autoridades ou à marinha, em vez de trazê-la pra cá. e não era qualquer criança, mas uma de pharus.”
aparentemente, a criança entrou para a marinha recentemente. finalmente entendi por que gilbert estava tão bravo.
mesmo com apenas 8 anos, um membro da marinha é um membro da marinha, e para a tripulação cada vez mais notória dos piratas caelum, ter alguém assim por perto seria problemático.
“bem, papai também não sabia.”
“claro, ele pode não ter sabido no começo. mas, depois que soube, deveria ter me informado na hora. em vez disso, ele só sorriu e comeu a refeição dele.”
“hmm…”
ele não estava errado, então apenas assenti em concordância.
“então, quer expulsar a criança? agora?”
mas gilbert não parecia muito empolgado com essa ideia. mesmo sendo hyperion da marinha e de pharus, parecia que expulsá-lo não era uma decisão fácil.
gilbert devia ter ouvido falar da situação de hyperion, e se o expulsassem, ficaria claro que ele seria maltratado lá fora.
“…então, sobre isso―.”
decidi dar uma pequena sugestão a gilbert.
“sua filha, lala, tem uma ideia.”
Continua.